Muita pompa, detenções e os fantasmas do costume. O dia de glória de Carlos III

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The Royal Family / YouTube cv

Coroação de Carlos III

Carlos III foi hoje oficialmente coroado numa cerimónia com muita pompa e circunstância na Abadia de Westminster. Desde protestos republicanos a polémicas com as jóias da coroa, o evento também teve as suas polémicas.

É hoje o dia D para Carlos III. O monarca britânico foi coroado formalmente esta manhã na Abadia de Westminster, oito meses após a morte da sua mãe Isabel II e depois de ter sido proclamado rei.

Os convidados já estavam a chegar desde por volta das nove da manhã. O cortejo de Carlos III e da rainha consorte Camila partiu às 10h20 em ponto do Palácio de Buckingham, em direcção à Abadia.

O casal real fez a viagem no Coche de Estado do Jubileu de Diamante, que foi criado especificamente no ano passado para a celebração do Jubileu de Isabel II. O coche é feito de alumínio, em vez da tradicional madeira, e até inclui ar condicionado.

Esta mudança foi uma quebra na tradição, já que o Coche de Estado Dourado foi tradicionalmente usado nas coroações desde 1831, incluindo da de Isabel II em 1953. Carlos e Camila usaram este coche, no entanto, para fazer a viagem de regresso após a coroação.

A famosa pontualidade britânica ficou novamente à vista com a chegada de Carlos e Camila à Abadia na hora programada, às 10h50. A cerimónia teve início às 11h, com a entrada do rei e da rainha na Abadia. Carlos entrou acompanhado por quatro pagens, sendo um deles o Príncipe George. As restantes crianças são netos de Camila.

No passado, os monarcas criavam trajes novos para cada coroação, mas Carlos III optou por usar as mesmas vestes e mantos que foram usados anteriormente em vários eventos pelos reis George IV em 1821, George V em 1911, George VI em 1937 e pela sua mãe Isabel II em 1953.

Já as vestes de Camila são totalmente novas, mas aparentam ter sido inspiradas pelo vestido usado pela sogra na sua coroação em 1953 — ambas usaram um vestido marfim com brilhantes.

Há outro detalhe notável nas roupas dos membros da família real. A Princesa de Gales, Kate Middleton, não usou uma tiara. Geralmente, as mulheres da realeza só usam tiaras em ventos após as 18h, exceptuando em eventos formais como as coroações. Desta feita, Carlos III terá pedido explicitamente à nora e à neta, a Princesa Charlotte, que usassem antes um adereço com flores no cabelo, para simbolizar a paixão do rei e da rainha pela natureza e o ambiente.

As seis fases da coroação

Todas as canções ouvidas na cerimónia foram escolhidas pessoalmente pelo monarca. O primeiro momento musical foi uma canção em galês, a primeira canção nesta língua a alguma vez ser ouvida na Abadia de Westminster. Recorde-se que quando foi coroado como Príncipe de Gales, Carlos também fez um discurso em galês.

Deu-se depois início à primeira das seis fases da coroação, a fase do reconhecimento, onde Carlos III é reconhecido como soberano por parte de representantes de quatro ordens.

Pela primeira vez, a fase do reconhecimento incluiu mulheres, nesta que é a cerimónia de coroação mais diversa de sempre — já que solicitou aos líderes religiosos muçulmanos, hindus, judeus, sikhs, jainistas e budistas que também encabecem a procissão cerimonial.

Seguiu-se depois a fase do juramento, em que o rei jurou sobre a Bíblia honrar e defender a lei britânica e a Igreja Anglicana. Carlos III também quebrou a tradição ao orar em público, algo inédito.

A fase da unção seguiu-se, a parte mas sagrada e solene da coroação. Este momento é até escondido do público com biombos, sendo um momento que só deve ser testemunhado pelo monarca, pelo Arcebispo e por Deus. Carlos III tirou as suas vestes reais e ficou apenas com uma simples túnica branca de linho, que simboliza a sua humildade perante Deus.

Já na investidura, o rei voltou a vestir várias túnicas tradicionais e sentou-se da famosa Cadeira da Coroação, que foi restaurada especialmente para este evento, enquanto lhe foram entregues as jóias da coroa.

Dentro da investidura, inclui-se a coroação em si. O reitor de Westminster entregou a Coroa de Santo Eduardo ao Arcebispo da Cantuária, que a benzeu antes de a colocar na cabeça do rei. Os sinos da Abadia tocaram enquanto salvas de tiros foram disparadas um pouco por todo o Reino Unido. Carlos III sentou-se depois no trono.

Segue-se a homenagem, dada pelo Arcebispo e pelo Príncipe de Gales, WIilliam, que jurou lealdade ao pai e lhe deu o tradicional beijo na bochecha. Foi depois a vez de Camila ser coroada, com o Arcebispo de Cantuária a colocar a Coroa da Rainha-Mãe na sua cabeça.

Terminou assim a cerimónia na Abadia de Westminster, esperando-se agora que os membros séniores da família real cumprimentem a multidão a partir da varanda do Palácio de Buckingham por volta das 14h15.

Muitas polémicas à mistura

Não seria um evento da família real britânica sem algumas polémicas à mistura. Uma delas é a detenção de seis membros do grupo republicano “Republic”, entre os quais o dirigente, Graham Smith. Cerca de 2000 manifestantes reuniram-se na Trafalgar Square para contestar a coroação de Carlos III.

A polícia deteve “seis dos nossos organizadores e apreendeu centenas de cartazes” com o slogan “Not my King” (“Não o meu rei”), disse à agência AFP um porta-voz do grupo “Republic”. Foram também ouvidos apupos ao Príncipe André, que esteve envolvido no escândalo sexual de Jeffrey Epstein e foi acusado de abusar sexualmente de uma jovem menor de idade.

Graham Smith estava a distribuir faixas aos manifestantes na Trafalgar Square quando foi detido pela polícia, segundo o jornal The Guardian.

Estas detenções acontecem depois de duas pessoas terem também sido levadas pela polícia em Setembro, durante as proclamações de Carlos como rei, e após os grupos republicanos terem revelado que receberam esta semana cartas com um tom “intimidatório” sobre a nova lei que dá mais poder à polícia durante protestos.

Mas não são só os britânicos que estão a contestar a monarquia. O fantasma do republicanismo também assombra alguns países da Commonwealth onde o movimento está a ganhar terreno, como a Jamaica ou a Austrália.

A ausência de Meghan Markle também fez correr muita tinta na imprensa britânica. A esposa de Príncipe Harry confirmou que não iria ao evento e que iria ficar nos Estados Unidos para celebrar o quarto aniversário do filho Archie.

Já Harry foi à coroação, mas foi relegado à terceira fila, depois de muitas polémicas e acusações que tem feito à família real no rescaldo do lançamento da sua biografia “Spare”. Ainda não se sabe se o filho mais novo de Carlos vai marcar presença na varanda do Palácio de Buckingham.

 

A Pedra do Destino colocada por baixo da Cadeira da Coroação também está no centro de uma polémica. A pedra centenária é de origem escocesa e os movimentos independentistas tentaram travar a sua viagem para o Reino Unido, considerando que o seu uso nas celebrações da coroação de Carlos III é um símbolo da subjugação da Escócia a Inglaterra.

 

A própria dimensão do evento e as vestes usadas pelos membros da família real não foram por acaso. A imprensa britânica estima que as celebrações da coroação custem 100 milhões de libras aos bolsos dos contribuintes e a família real decidiu cortar algumas das tradições para tentar conter a contestação sobre os custos.

Um exemplo disso é que só Carlos e Camila foram coroados e também o facto da Princesa de Gales não usar uma tiara. Na coroação de Isabel II, outros nobres também receberam tiaras e coroas, mas a realeza terá pensado que seria de mau tom incluir um ritual tão pomposo no meio de uma crise de inflação.

A Coroa da Rainha-Mãe, que foi colocada na cabeça de Camila, também não incluía o famoso diamante Kohinoor, de 105 quilates. A sua remoção terá sido feita devido à conotação que o diamante teve. Vários países, incluindo a Índia, o Irão ou o Afeganistão, afirmam ser os donos justos e consideram que a sua posse por parte dos britânicos é um símbolo do domínio colonial do país e da família real.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Erro. Carlos chegou antes, visto que William e Kate ainda não tinham chegado – ninguém deu conta, contudo.

    Os protestos “da treta” já eram esperados. Não tiveram grande impacto. Foi grandemente reduzida a cerimonia; não obstante, teve representação multicultural e também das várias “fés” professadas em UK.

    Long live the King!

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