Uns em “pânico”, outros em “negação”, e advogados que “lhes ficam com o dinheiro”. Comunidade portuguesa nos EUA em risco: “alguns andam por cá há 20 anos e nunca se legalizaram”.
A promessa do Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de deportar 11 milhões de imigrantes em situação irregular começa a levantar preocupações entre milhares de portugueses.
Muitos vivem nos EUA há décadas, integrados na sociedade, mas sem documentação regular. O plano de Trump “afetará milhares” de portugueses naquela situação, admite ao Expresso Helena Hughes, presidente da Immigrants Assistance Center (IAC), organização de apoio à comunidade luso-americana.
Trump tem reafirmado a intenção de implementar deportações em massa, alegando que utilizará forças militares e até mesmo campos de detenção para executar o plano.
Hughes explica ao semanário que muitos portugueses nos Estados Unidos chegaram como turistas e permaneceram ilegalmente, alguns há mais de 20 anos, e apesar de terem constituído família, os filhos menores nascidos em solo americano não garantem a permanência dos pais.
“Portugal integra uma lista de países cujos cidadãos podem permanecer durante 90 dias nos Estados Unidos, ao abrigo de um visto de turista. O problema é que muitos recorrem a esse estratagema para entrarem e nunca mais saírem. Alguns andam por cá há 20 anos e nunca se legalizaram”, diz a responsável.
“Como vivem aqui há muito tempo, pensam que nada lhes poderá acontecer. Estão em absoluta negação”, diz ao jornal Maria Vieira Bedard, diretora-executiva do SER-Jobs for Progress: “como sobreviveram à primeira administração Trump, julgam que poderão repetir a fórmula durante a segunda.”
“Alguns chegam em pânico. Não sabem o que fazer”, sublinha.
A situação de vulnerabilidade é agravada pela exploração de advogados que prometem regularizar documentos, mas não cumprem, prejudicando ainda mais a situação dos imigrantes.
“Prometem resolver o problema e, no fim, ficam-lhes com o dinheiro. E o tal problema continua por resolver. Falo de advogados no seio da própria comunidade lusa”, acusa Bedard.
A burocracia para legalização nos EUA é morosa. Uma carta de chamada pode demorar “entre 10 a 13 anos” para ser aprovada. Apesar disso, a urgência de muitos em procurar melhores oportunidades económicas leva-os a arriscar a entrada clandestina, comprometendo as chances futuras de uma regularização.
Embora a maioria dos imigrantes ilegais nos EUA seja originária da América Latina, a comunidade portuguesa é crucial em setores como a restauração e serviços gerais. Donos de negócios em cidades como Nova Iorque destacam a importância da mão de obra imigrante para o funcionamento das empresas — mas a incerteza gerada pelo plano de deportações abala a estabilidade económica de famílias e comunidades.
20 anos ilegais e ainda se queixam?
A comunidade portuguesa foi uma das que votou Trump…