A quota é demasiado baixa, os preços do peixe são baixos e o combustível é muito caro… A pesca do atum nos Açores pode ter os dias contados.
“Lançamo-nos todos os dias ao mar na esperança de encontrar algum peixe”, conta Eduino Quadros, o capitão do barco, à Deutsche Welle.
Nos Açores, os pescadores de atum perscrutam a superfície do oceano com binóculos durante horas. Há mais de 30 barcos como o do Capitão Quadros nas águas à volta das nove ilhas do arquipélago.
Aqui, onde a pesca é sustentável há gerações, a “competição é feroz”, para apanhar peixe suficiente, antes de atingir a quota e não se poder apanhar mais.
Ao largo dos Açores, as redes são proibidas. O atum só pode ser apanhado com cana de pesca e só podem ser mantidos os que pesam mais de 10 quilos.
O grande choque
A autoridade pesqueira anunciou uma moratória sobre o atum patudo, a partir desta terça-feira. O capitão Eduino e o seu irmão Paulo estão zangados.
“É frustrante. Estamos a pescar há menos de um mês e agora temos de parar”, desabafou Paulo Quadros.
O capitão Eduino Quadros está desiludido:. “Não gosto de o dizer, mas a situação agora é muito pior do que quando comecei”.
Estão à beira de desistir, como muitos outros já o fizeram.
O sol pôs-se lentamente, esta segunda-feira, pondo fim à pesca do atum patudo, este ano.
“Se isto não é o fim…”
Os peixes, que pesam 70 ou 80 quilos, são muito procurados nos mercados internacionais. São ideais para sushi ou como bifes em restaurantes gourmet e deveriam ser uma aposta segura. Mas o comprador traz a próxima desilusão.
Apenas 2 euros por quilo para o peixe de qualidade superior. É a fábrica de peixe que dita o preço.
A autoridade tinha prometido aos pescadores um acordo: volumes de captura mais baixos com preços de compra mais elevados.
“Mas isso não aconteceu. Nem sequer honraram o preço! O que é que se passa com o nosso Governo? São eles que mandam, por que é que não fazem nada? Não é para isso que lhes pagamos? diz o Capitão Quadros.
Isto pode significar o fim da frota. Cerca de 2.000 postos de trabalho dependem direta e indiretamente da pesca.
Quase 240 mil pessoas vivem nos Açores, mas cada vez mais pessoas estão a deixar as ilhas, incluindo os filhos dos pescadores.
Encontrar trabalhadores é outro problema, disse à Deutsche Welle outro capitão de um barco de pesca enquanto descarrega as suas capturas.
“Se isto não é o fim, estamos muito perto dele. A quota é demasiado baixa, os preços do peixe são baixos, o combustível é muito caro… É mau para nós. Não consigo olhar os meus homens nos olhos, no barco. Fico doente”, lamentou o capitão Afonso.
E as redes? As redes…
Os irmãos Quadros denunciaram que as redes esvaziam os mares e, por isso, deviam ser proibidas.
“As redes de cerco com retenida deviam ser proibidas. Matam cardumes inteiros, sobretudo da forma como são utilizadas atualmente. Fazem flutuar cardumes de isco à superfície. Os peixes jovens abrigam-se debaixo delas para se protegerem dos predadores, mas acabam por morrer nas redes.”
As redes têm dois quilómetros de comprimento e 200 metros de profundidade. Quase 70% do peixe do ano é capturado desta forma. Os principais culpados europeus são as frotas espanhola e francesa.
Se não querem que muitas espécies se extingam, deviam proibir esta prática – apontou Eduino.
Nos Açores, os pescadores de atum só podem usar cana e linha de pesca. Não está fácil, a vida dos pescadores açorianos.
Agora, as novas quotas podem significar o fim do setor.
ZAP // Deutsche Welle