O Papa Francisco disse hoje que “em nome de Deus algum uma guerra pode ser santa”, ao recordar o caso da Ucrânia, e alertou também os burocratas do Vaticano para terem cuidado com o “demónio” escondido entre eles.
Depois de recordar o caso da Ucrânia, cuja invasão pela Rússia tem o apoio do clero russo, mas também conflitos noutras partes do mundo, o Papa Francisco declarou que “em nome de Deus algum uma guerra pode ser declarada santa”.
No salão de bênçãos do Vaticano, o sumo pontífice realizou hoje a tradicional audiência de Natal com a Cúria Romana, aqueles que fazem parte do governo da Igreja Católica, e realçou o “grande desejo de paz” que todos partilham, mais de 300 dias depois da invasão ordenada pelo Presidente russo ao país-vizinho.
“Estou a pensar na Ucrânia martirizada, mas também nos muitos conflitos que estão a ter lugar em várias partes do mundo. A guerra e a violência são sempre um fracasso. A religião não deve ser utilizada para alimentar conflitos”, acrescentou.
“Enquanto sofremos a devastação da guerra e violência, devemos dar a nossa contribuição para a paz, tentando remover do nosso coração todas as raízes de ódio e ressentimento para com os nossos irmãos e irmãs que vivem ao nosso lado”, declarou.
“Diante do Príncipe da Paz, que vem ao mundo, deponhamos todas as armas de todo o tipo. Que ninguém tire partido da sua própria posição ou do seu próprio papel para mortificar o outro”, sublinhou o papa.
Francisco usou a sua saudação anual de Natal à Cúria Romana para voltar a avisar os cardeais, bispos e padres que trabalham na Santa Sé que não são de modo algum irrepreensíveis e são até particularmente vulneráveis ao mal.
OPapa disse aos presentes que, ao viver no coração da Igreja Católica, é possível “facilmente cair na tentação” de pensar “estar a salvo, melhor que outros” e “já não necessitar de conversão”.
“No entanto, estamos em maior perigo do que todos os outros, porque estamos cercados pelo ‘demónio elegante‘, que não faz uma entrada barulhenta, mas vem com flores na mão”, disse Francisco aos eclesiásticos no Salão das Bênçãos do Palácio Apostólico.
Francisco usou grande parte do seu discurso natalício para convidar os burocratas do Vaticano e um “exame de consciência” ao estilo jesuíta e ao arrependimento no período que antecede o Natal.
Este ano, marcado por diversos escândalos de abusos sexuais na igreja, Francisco referiu que ser católico não significa seguir um conjunto de ditames que nunca muda, mas é antes um “processo de compreensão da mensagem de Cristo que nunca termina, mas desafia-nos constantemente“.
Os críticos conservadores do Papa têm acusado Francisco de heresia por alguns dos seus gestos e pregações, incluindo deixar católicos divorciados e casados de novo civilmente acederem aos sacramentos.
ZAP // Lusa