Se o mundo mantiver as emissões atuais, o “orçamento de carbono” termina dentro de 4 anos. Mas os “super-ricos” continuam a tratar o planeta como se fosse “o seu recreio pessoal”.
425 horas no ar. É o tempo que passa em média um milionário a voar no seu jato privado num só ano, numa média total de 184 voos por ano. Cada um.
O carbono produzido por cada um destes milionários é o mesmo que uma pessoa média demoraria 300 anos a produzir.
Mas também se podem falar dos seus iates: estes emitiram num ano a mesma quantidade de carbono que uma pessoa média emitiria em 860 anos. Cada um.
A algumas semanas da COP29 em Baku, no Azerbaijão, a organização Oxfam publicou um estudo com o título “A desigualdade de carbono mata” que analisa o impacto carbónico de jacos privados, iates e investimentos poluentes milionários.
Os resultados são reveladores: 50 milionários produzem em pouco mais de uma hora e meia o mesmo CO2 que uma pessoa média emite em toda a sua vida.
“Os super-ricos estão a tratar o nosso planeta como o seu recreio pessoal, incendiando-o por prazer e lucro. Os seus investimentos sujos e os seus brinquedos de luxo não são apenas símbolos de excesso; são uma ameaça direta para as pessoas e para o planeta”, apontou o Diretor Executivo da Oxfam International, Amitabh Behar.
O artigo da Oxfam aponta para algumas situações alarmantes. Nomeadamente, os dois jatos privados de Jeff Bezos passaram quase 25 dias no ar durante um período de 12 meses e emitiram tanto carbono como um empregado da Amazon nos EUA emitiria em 207 anos.
O mesmo se aplica à família Walton, dona da cadeia de supermercados Walmart, que possui três super iates que, num ano, produziram tanto carbono como cerca de 1714 trabalhadores das lojas Walmart.
Já o empresário mexicano Carlos Slim fez num ano 92 viagens no seu jato privado, o que equivale a dar cinco voltas ao mundo.
Para além dos meios de transporte, há também o investimento em indústrias que emitem dióxido de carbono de forma massiva: cerca de 40% dos investimentos dos milionários investigados o estudo são em indústrias altamente poluentes, que vão desde petróleo às minas, transportes marítimos e cimento.
A Oxfam vai mais além e aponta o dedo a estes empresários por serem responsáveis pela fome mundial: “as emissões do 1% mais rico causaram perdas de colheitas que poderiam ter fornecido calorias suficientes para alimentar 14,5 milhões de pessoas por ano entre 1990 e 2023″, escreve a organização.
Estes números podem mesmo indiciar consequências ainda mais devastadoras: “8% das mortes devido ao calor até 2120 ocorrerá em países de rendimento baixo e médio-baixo”.
As desigualdades sociais são também agravadas pelas alterações climáticas, escreve a Oxfam, pois estas “provocaram uma queda da produção económica global de 2,7 mil milhões de euros desde 1990. O maior impacto far-se-á sentir nos países menos responsáveis pela degradação do clima”.
Os países ricos não cumpriram a sua promessa de financiamento climático de cerca de 98 mil milhões de euros e, a caminho da COP29, não há qualquer indicação de que venham a estabelecer um novo objetivo de financiamento climático, acusa a Oxfam.
É por isso que pede aos governos que taxem mais os muitos ricos: um imposto sobre a riqueza dos milionários poderia angariar quase 16 mil milhões de euros por ano, garante a organização.
Comem muito feijão