Geralmente, associamos as decapitações rituais e a exibição de cabeças decepadas de inimigos mortos em batalhas às civilizações pré-colombianas ou aos povos do norte da Europa. Mas a prática não deixou de fora os iberos.
A nova exposição do Museu Nacional de Arqueologia de Madrid, em Espanha, vem provar, através de vários exemplares recolhidos no noroeste da Península Ibérica, que estas práticas também passaram por aqui há, pelo menos, cerca de 2300 anos.
Cabeças Cortadas: Símbolos do Poder reúne dezenas de peças oriundas de vários museus espanhóis para explorar os vários significados de “cabeças de troféu”, desde a pré-história ao mundo contemporâneo.
Carmen Rovira, uma das suas comissárias, lembrou, porém, que a decapitação dos inimigos com fins propagandísticos continua a ser feita por grupos extremistas em África ou no Médio Oriente. “Passaram milhares de anos e, inexplicavelmente, estas atrocidades continuam a repetir-se.”
Os vestígios mais antigos presentes na exposição datam mais precisamente do século III a.C. e são vários crânios que foram encontrados durante escavações do povoado de Puig Castellar. Estes crânios têm uma característica que os define: foram todos atravessados por uma cavilha de ferro.
O prego que atravessa estes crânios terá sido colocado poucas horas depois de a pessoa em causa ter morrido, muito provavelmente para que a sua cabeça fosse exibida num local público, ao lado das suas armas.
Ao lado destes, estão outros crânios encontrados durante escavações muito mais recentes, que começaram em 2012 “na grande metrópole do mundo ibero” – Ullastret, em Girona. “Temos muitos exemplos de ‘cabeças troféu’ de todo o mundo na exposição, e de épocas diferentes, mas as dos iberos são as mais importantes e foram agora estudadas”, disse Carmen Rovira, citada pelo jornal Público.
Há, desde o neolítico, provas destas práticas de decapitação, que ocorrem por dois motivos: porque quem o faz quer homenagear o antepassado morto e manter junto a si as suas qualidades; ou simplesmente porque se trata de um inimigo e cortar-lhe a cabeça para em seguida a exibir publicamente é um sinal de vitória, explica a comissária.
Os cinco crânios iberos expostos no museu de Arqueologia de Madrid ilustram esta segunda hipótese. Uma equipa de antropólogos, arqueólogos e outros especialistas estudou estes crânios e conseguiu chegar a esta conclusão.
A mesma equipa recriou também, e pela primeira vez, o rosto de um guerreiro ibero que terá vivido há 2300 anos. Os especialistas acreditam que, depois de separada do corpo, a cabeça do jovem guerreiro foi enfiada num saco e levada a cavalo para Ullastret, sendo colocada na fachada da casa de um nobre, muito possivelmente do homem que o matou, junto a uma espada de ferro.
Para prenderem o crânio ao lado da arma do guerreiro, usaram uma cavilha com 23 centímetros.
A não ser que tenham mudado a Catalunha de lugar, esta se encontra no nordeste peninsular. No noroeste está a Galiza.