A ilha de Machias Seal pode brevemente deixar de ser o único território que gera conflitos entre os dois países norte-americanos. Mas até é um lugar pacífico, onde coexistem dois homens, centenas de gaivotas e… milhares de rochas.
Tem 80937 m2 de área e situa-se entre o estado norte-americano do Maine e a Nova Escócia, no Canadá.
E há quem lá viva — pelo menos durante uns meses. É o caso dos irmãos canadianos Anthony e Russell Ross, que são faroleiros na pequena ilha, composta apenas por um farol, a casa onde dormem, muitas rochas e milhares de pássaros.
Não trabalham lá a tempo inteiro: cada um só é faroleiro durante 3 meses do ano, mas o helicóptero que os leva até lá só faz a viagem uma vez por mês, conta a BBC. No entanto, existem dois barcos turísticos que entram e saem da ilha uma vez por dia, um dos EUA e outro do Canadá.
Durante a Guerra de 1812, a Grã-Bretanha e os EUA reivindicaram a Ilha de Machias Seal e as águas que a rodeavam. Apesar de não ter qualquer valor no que toca a património, esta terra localiza-se, na verdade, numa valiosa rota de navegação, pelo que nenhum dos países, até hoje, quis abdicar do território. A Grã Bretanha deu lugar ao Canadá e a disputa territorial continua.

A azul, assinalada a Ilha de Machias Seal
Em 1832, a Grã-Bretanha construiu um farol na ilha para fazer valer fisicamente a sua reivindicação. Desde então, os canadianos têm vivido lá, ajudando a manter os marinheiros afastados da sua costa rochosa e protegendo a terra de inimigos humanos e naturais.
É esse o trabalho dos dois irmãos, que também têm como função proteger as milhares de aves marinhas — papagaios-do-mar do Atlântico, tordos-do-mar, andorinhas-do-mar árcticas e búteos-rabilongos — que aqui fazem ninho durante o verão.
Numa altura em que o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça o Canadá com uma anexação, esta ilha serve de recordação de um confronto que já existia, e pode alargar-se para dimensões triliões de vezes superiores.
Mas Anthony e Russel continuam a fazer tudo igual — observam as gaivotas, acendem o farol e desfrutam de uma vida longe do urbanismo. Sobre se o território é dos EUA ou do Canadá, a resposta dos dois é despreocupada: “Os pássaros não se importam, não sabem a diferença”.