O exercício físico pode provocar um AVC? Em alguns casos, sim!

A prática de exercício físico pode levar ao aumento da placa nas artérias carótidas, o que compromete o fluxo sanguíneo para o cérebro e pode ser responsável por um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

É comum encontrar recomendações como “Não dispense a consulta de um médico” ou “Não se esqueça de fazer um check-up à sua saúde” em ginásios e espaços associados ao exercício físico.

No entanto, a maior parte das pessoas ignora estes conselhos e dispensa uma análise médica.

De facto, parece um contrassenso. Afinal, se o exercício físico promove uma vida saudável, que razões justificariam uma consulta médica?

A ciência vem agora explicar esta contradição – existem determinados casos em que a prática de exercício físico regular pode ser prejudicial e pode estar na origem de eventos cardiovasculares graves como o AVC.

Investigadores do Instituto Indiano de Tecnologia de Kharagpur descobriram que a frequência cardíaca elevada associada à prática de exercício pode causar um AVC em pacientes com artérias carótidas severamente obstruídas.

No entanto, em pacientes saudáveis e sem obstrução de artérias, o exercício físico é recomendado, uma vez que ajuda a manter o fluxo sanguíneo.

A aterosclerose é uma doença cardiovascular causada pelo acúmulo de colesterol e lípidos nas artérias. Embora não apresente sintomas numa fase inicial, à medida que a placa se acumula, o tamanho do lúmen diminui e o fluxo sanguíneo é restringido.

As artérias carótidas, por sua vez, estão localizadas no pescoço e são responsáveis por levar o sangue para os tecidos faciais e para o cérebro. O acúmulo de lípidos e colesterol nas paredes internas da carótida limita o fluxo sanguíneo.

Esta constrição, designada por estenose, restringe o fluxo sanguíneo para o cérebro e pode provocar um AVC.

O aumento da frequência cardíaca em pessoas saudáveis aumenta e estabiliza a força que o sangue exerce na parede da artéria, o que diminui a probabilidade de estenose. Contudo, o mesmo não acontece em pessoas com um certo nível de obstrução.

Os investigadores utilizaram um modelo computacional especializado para simular o fluxo sanguíneo em artérias carótidas em três graus de estenose – sem estenose, com obstrução leve de 30% e com uma oclusão significativa de 50%.

Os efeitos foram avaliados com uma frequência cardíaca induzida de 140 bpm e com frequências mais baixas, de repouso (entre os 67 e os 100 bpm).

A condição de treino aumentou a saúde da carótida em casos sem estenose e com 30%. Mas para uma obstrução substancial, os resultados foram alarmantes.

De acordo com Somnath Roy, autor principal do estudo publicado a semana passada na revista Physics of Fluids, “o exercício físico intenso apresentou efeitos adversos em pacientes com níveis de estenose moderada ou alta”.

“sto acontece porque o aumento da frequência cardíaca leva ao aumento da tensão de cisalhamento na zona de estenose, o que pode levar à rutura da placa. Uma vez rompida, a placa pode migrar para o cérebro e obstruir o fluxo sanguíneo, provocando um AVC isquémico.”

Outros fatores importantes como a idade, estilo de vida e genética contribuem para o risco de estenose e AVC.

Os autores do estudo alertam para a importância de fazer um check-up cardiovascular, em especial para pessoas que praticam exercício físico com regularidade. Em casos de estenose moderada ou grave é importante seguir uma rotina de exercício físico cuidadosamente desenhada por um especialista.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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