O chumbo deixou os antigos romanos mais “burros” (hoje é ao contrário)

Na Roma Antiga, o chumbo causou défices no QI dos romanos. Hoje em dia, é mais usual o contrário: o défice no QI é que costuma causar “chumbos”.

A extração extensiva de prata, na Roma Antiga, pode ter exposto os romanos a elevados níveis de poluição atmosférica por chumbo, o que provavelmente provocou uma diminuição geral do seu QI.

Análises das camadas de gelo do Ártico, detalhadas num estudo publicado esta segunda-feira na PNAS, apontam para concentrações de chumbo atmosférico no auge do Império Romano.

De acordo com o estudo, as concentrações de chumbo na Roma Antiga eram cerca de três vezes superiores às atuais nos EUA, por exemplo.

O efeito sobre a inteligência dos povos antigos de toda a Europa – especialmente nas principais regiões de fabrico de moedas na Península Ibérica – teria sido significativo e poderia mesmo tê-los tornado mais suscetíveis a conflitos e pragas.

Se por um lado, os canos de água e a cerâmica romanos expunham os cidadãos à contaminação por chumbo, o que se reflete em análises anteriores dos ossos e dentes de romanos urbanos; por outro, o novo estudo propõe que a poluição atmosférica por chumbo pode ter tido um efeito mais vasto.

Embora a maior parte do chumbo tenha pairado dentro do Império Romano – e especialmente sobre as áreas de trabalho de metais – quantidades menores ter-se-iam espalhado pela Europa e acabado nas geleiras da Gronelândia em poucos dias.

Todos os anos, o gelo dos glaciares tende a formar camadas facilmente distinguíveis com cerca de 10 centímetros de espessura, pelo que os cientistas podem datá-las com exatidão, bem como os produtos químicos que contêm.

Como detalha a New Scientist, a equipa de investigação revisitou os registos de chumbo arquivados em três núcleos de gelo de glaciares na Gronelândia e no Ártico russo, representando os anos 500 a.C. a 600 d.C.

A equipa descobriu que, nas áreas mais próximas dos locais de fundição, as concentrações de chumbo excediam provavelmente 150 nanogramas por metro cúbico de ar no auge do Império Romano, de 27 a.C. a 180 d.C.. Isto traduz-se em mais de 500.000 toneladas de chumbo libertadas para a atmosfera durante esse período.

Com base em estudos epidemiológicos, os antigos níveis de poluição atmosférica por chumbo teriam causado uma queda média de 2,5 a 3 pontos no QI em todo o Império Romano – com efeitos muito maiores nas zonas de fundição.

Para além do império, toda a Europa – e provavelmente até a América do Norte – teria sido afetada, de alguma forma, pela poluição por chumbo dos romanos, explicou à New Scientist, o líder da investigação Joseph McConnell, investigador do Desert Research Institute em Reno, Nevada, nos EUA.

Miguel Esteves, ZAP //

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