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Ilustração do Sifrhippus sandrae, o cavalo mais antigo conhecido.
Ao lado de um caracol lunar e de um maxilar de um “mini-primata”, o pequeno Sifrhippus “cavalgou” para fora da Terra, numa viagem que fez de Karsen Kitchen a mulher mais jovem de sempre a ir ao Espaço.
O pequeno equídeo Sifrhippus sandrae, que, surpreendentemente, pesava menos de quatro quilos, cavalgou na Terra há 56 milhões de anos, mas só muito recentemente é que teve a oportunidade de fazer uma viagem inédita… ao Espaço.
Um fóssil do mais antigo cavalo conhecido foi enviado a bordo do mesmo foguetão que levou, em agosto de 2022, o primeiro português (o empresário Mário Ferreira) ao Espaço: a New Shepard da Blue Origin.
A missão, liderada por Rob Ferl, investigador de biologia espacial na Universidade da Florida, levou este e outros dois outros espécimes para o Espaço para estudar a sua relevância na história evolutiva da Terra.
Para além do fóssil de Sifrhippus, foram também enviados um maxilar de Teilhardina — o mais antigo antepassado conhecido dos primatas modernos — com sensivelmente a mesma “idade” do pequeno cavalo, e ainda uma concha de Naticarius, um caracol lunar predador que viveu há 2,9 milhões de anos.
Sim, leu bem: o caracol enviado para o Espaço chama-se mesmo caracol lunar, devido às suas conchas arredondadas com um aspeto celestial. Aliás, essa foi uma das razões pelas quais foi escolhido para esta missão. Mas não só.
O calor encolheu-os
Embora a pequena dimensão do velho cavalo — tal como do caracol e da concha — tenha facilitado a ida para o Espaço, os três não foram enviados apenas pelo seu tamanho conveniente: foram selecionados pela sua importância para a compreensão da evolução da vida na Terra.
Durante o Máximo térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM, na sigla em inglês), um período de aquecimento global — as temperaturas subiram entre 5 a 8 graus Celsius — muitas espécies, incluindo o primeiro cavalo, diminuíram de tamanho. Trata-se de um fenómeno conhecido como a lei do quadrado-cubo, ou lei quadrático-cúbica, que ajudou os organismos mais pequenos a dissipar melhor o calor.
Algumas espécies encolheram até 30% do seu tamanho original. O Teilhardina, o primeiro primata com unhas e “dono” do maxilar que seguiu na New Shepard, cabia… na palma de uma mão humana.
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O mais antigo primata conhecido, Teilhardina, caberia na palma de uma mão humana.
Os cientistas acreditam que este antigo evento de aquecimento foi desencadeado por atividade vulcânica que incendiou vastas reservas subterrâneas de material orgânico. O acontecimento serve de aviso para a atual crise climática, uma vez que as atuais emissões de combustíveis fósseis espelham a libertação de carbono dessa época.
“Foi um período de cerca de 200 mil anos de aquecimento global intenso, com a magnitude que prevemos para as alterações climáticas atuais, embora hoje esteja a acontecer mais rapidamente”, avisa Jon Bloch, conservador de paleontologia de vertebrados, que selecionou os fósseis que saíram da Terra.
New Shepard assinalou outro marco histórico
Outro feito notável do foguetão da empresa de exploração espacial norte-americana foi o envio da mulher mais jovem de sempre para a travessia da linha de Kármán, a fronteira internacionalmente reconhecida do Espaço, localizada a 100 quilómetros acima da Terra.
Com apenas 21 anos, Karsen Kitchen bateu este recorde, enquanto Ferl foi também graças a esta viagem o primeiro investigador financiado pela NASA a deixar a Terra num foguetão comercial — e sem dúvida o primeiro a levar tubos de amostragem presos às pernas, cheios de pequenas plantas.
“Imagine ser um oceanógrafo que nunca esteve num barco, alguém que estuda florestas e nunca tocou numa árvore, um paleontólogo que nunca encontrou um fóssil. Sou biólogo espacial há 25 anos. Agora, finalmente, estive no Espaço”, disse ao Museu da Flórida.
Ao longo das diferentes fases do voo — lançamento, apogeu e descida — Ferl ativou êmbolos para libertar um fixador que congelou as plantas a nível celular, abrindo portas a uma análise posterior que podem vir a ajudar a a desenvolver sistemas agrícolas para futuras missões espaciais, incluindo esforços de colonização de Marte.
A inclusão de fósseis em voos espaciais não é, no entanto, nova: faz parte de uma longa tradição de envio de espécimes biológicos antigos para fora do nosso planeta. Missões anteriores transportaram fósseis de dinossauros, trilobites e até restos de hominídeos primitivos.