Alguns anos parecem passar num piscar de olhos, outros parecem arrastar-se por muito mais tempo. Alguns, como os anos bissextos, podem durar mesmo um pouco mais do que o habitual. E depois há o ano de 46 a.C., que durou 445 dias — mais 80 dias do que estamos habituados.
Se achava que 2024 nunca mais acabava, ou que interminável ano de 2020 fechado em casa foi o mais longo da sua vida, o que diria então de 46 a.C. — que durou nada menos do que 445 dias?
E afinal, porque é que esse ano durou tanto tempo?
Os anos são o tempo que a Terra demora a fazer uma órbita à volta do Sol e a regressar ao ponto arbitrário que definimos como o início do novo ano.
Os nossos calendários são uma tentativa de dividir o ano em partes — meses, semanas, dias — para nossa própria conveniência, explica o IFLS.
É muito útil poder dizer “encontramo-nos no dia 3 de março às 12:00” em vez de “quando as sombras da montanha se estenderem até à colina ali ao fundo, então tomaremos um brunch”.
Embora tenhamos melhorado a correspondência entre o ano orbital e os nossos anos civis, acrescentando mesmo “segundos bissextos” para manter as coisas realmente sincronizadas, os calendários anteriores não eram tão eficientes.
Antes da introdução do calendário juliano por Júlio César, o ano romano era muito diferente, contendo apenas quatro meses com 31 dias — março, julho, outubro e maio. Os outros eram mais curtos, com 29 dias cada, exceto o estranho mês de fevereiro, que tinha 28 dias.
Como resultado, o calendário ficou rapidamente dessincronizado com a passagem da Terra à volta do Sol e, por volta de 200 a.C., o calendário estava tão desajustado que um eclipse quase total que ocorreu no que hoje designamos por 14 de março foi registado como tendo ocorrido a 11 de julho.
Como consequência, tinha de ser acrescentado de poucos em poucos anos um “mês intercalar”, chamado Mercedonius, para contrariar o desvio. Não era uma boa forma de gerir um calendário.
Embora o Mercedonius pudesse ser utilizado para realinhar o calendário com o ano, era permeável a abusos políticos — como por exemplo prolongar o tempo de mandato de qualquer político no seu cargo.
Mais tarde, o imperador Júlio César tentou retificar a confusão introduzindo o Calendário Juliano, em 45 a.C., acrescentando um ou dois dias ao fim de todos os meses curtos (exceto o estranho fevereiro) para tornar o número total de dias num ano mais familiar, 365.
Mas antes que o novo calendário viesse a corrigir (mais ou menos) as coisas, havia ainda um problema a resolver: o ano continuava a não estar alinhado com as estações do ano. Para retificar este problema, César acrescentou vários meses ao ano 46 a.C.
“Para que o cálculo correto das estações pudesse começar com o próximo fim de semana de janeiro, César inseriu dois outros meses entre os de novembro e dezembro, pelo que com estes arranjos era um ano de quinze meses, incluindo o mês intercalar, que pertencia a esse ano de acordo com o costume anterior”, escreveu o historiador romano Suetónio em Vida de Júlio César.
Assim, 46 a.C. tornou-se o ano mais longo da história, com 445 dias, e é por vezes referido como annus confusionis — ou o “ano da confusão“.
E o ano mais curto de sempre, qual foi? Terá sido o de 1582, ano em que o mês de outubro teve apenas 21 dias. Devido à transição do calendário juliano para o calendário gregoriano, o décimo mês saltou do dia 4 para o dia 15.