A formação do núcleo da Terra parece-se com a do café de filtro

Tania Cunha / Planetário do Porto - Centro Ciência Viva / Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço

Novo método rastreou o movimento do metal líquido que formou o núcleo do nosso planeta, na sua génese.

O ambiente violento à volta da Terra primitiva fez com que o manto se transformasse numa espécie de café de filtro gigante, derramado.

E, assim, originou a percolação de metal líquido numa rede interconectada.

Esta é a ideia defendida num estudo publicado na revista Science Advances, resultado de uma técnica desenvolvida por Yingwei Fei e Lin Wang.

O novo método rastreou o movimento do metal líquido que formou o núcleo do nosso planeta, na sua génese, à medida que se movimentava para o seu interior.

É uma nova visão sobre o processo pelo qual os materiais que formaram o núcleo da Terra desceram às profundezas do nosso planeta, deixando para trás vestígios geoquímicos que há muito intrigam os cientistas, indica o comunicado do Instituto Carnegie.

A Terra formou-se a partir do disco de poeira e gás que cercou o nosso Sol nos seus primeiros tempos. À medida que a Terra cresceu a partir de objectos menores ao longo do tempo, o material mais denso afundou, separando o planeta em camadas distintas – incluindo o núcleo de metal rico em ferro e o manto de silicato.

Aliás, para um dos autores do estudo, Yingwei Fei, o evento mais importante na história geológica da Terra é a separação do núcleo e do manto.

Cada uma das camadas do nosso planeta tem a sua própria composição.

O ferro domina no núcleo, mas dados sísmicos revelam que alguns elementos mais leves – oxigénio, enxofre, silício e carbono – foram dissolvidos e levados para o centro do planeta.

O silicato domina no manto, mas as tem algo que intriga os cientistas: as suas concentrações dos denominados elementos “amantes do ferro”.

Nesta análise, os cientistas utilizaram prensas hidráulicas pesadas (como as dos diamantes sintéticos), para colocar amostras de material em altas pressões, imitando as condições encontradas no interior da Terra. Assim recriaram o processo de diferenciação da Terra em miniatura e sondaram diferentes maneiras possíveis pelas quais o núcleo foi formado.

Mostraram que, tal como a água se filtra através da borra de café, sob as condições dinâmicas encontradas na Terra primitiva, o ferro derretido terá passado pelas fendas entre uma camada de cristais sólidos de silicato – limite de grão – e trocado elementos químicos.

Este novo método poderá ser aplicado no estudo de outros planetas rochosos e pode ajudar a responder a mais perguntas sobre as interacções do núcleo e do manto que ocorrem nas suas profundezas.

ZAP //

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