Após uma meta-análise de mais de 300 artigos científicos, uma equipa de investigadores da Universidade de Aarhus concluiu que foi a caça humana, e não as alterações climáticas, o principal fator de extinção dos grandes mamíferos nos últimos 50.000 anos.
Nos últimos 50.000 anos, muitas espécies de grande porte, ou megafauna, pesando pelo menos 45 quilos, foram extintas.
Um novo estudo conduzido por investigadores da Universidade de Aarhus sugere agora que estas extinções foram predominantemente causadas pela caça humana e não pelas alterações climáticas, apesar das flutuações climáticas significativas registadas durante este período.
Esta conclusão é apoiada por análises exaustivas que incorporam provas da caça humana, dados arqueológicos e estudos em vários domínios científicos, demonstrando que a atividade humana foi um fator mais decisivo nestas extinções do que as alterações climáticas anteriormente dramáticas.
O debate tem-se prolongado durante décadas: foram os seres humanos ou as alterações climáticas que levaram à extinção de muitas espécies de grandes mamíferos, aves e répteis que desapareceram da Terra nos últimos 50 000 anos?
Por “espécies grandes”, explica o Sci Tech Daily, entendemos os animais que pesavam pelo menos 45 kg, conhecidos como megafauna. Com base nos restos mortais encontrados até agora, pelo menos 161 espécies de mamíferos foram levadas à extinção durante este período.
As espécies mais afetadas por estes eventos de extinção foram as de maior porte: os herbívoros terrestres que pesavam mais de uma tonelada, os megaherbívoros.
Há cerca de 50 mil anos, existiam 57 espécies de megaherbívoros. Atualmente, restam apenas 11, que também registaram declínios drásticos nas suas populações, mas não ao ponto de se extinguirem completamente.
De acordo com os resultados do novo estudo, apresentadas num artigo recentemente publicado na revista Cambridge Prisms: Extinction, muitas destas espécies desaparecidas foram caçadas até à extinção pelo homem.
Diferentes domínios de investigação
Os autores do estudo incorporaram vários campos de investigação, incluindo estudos diretamente relacionados com a extinção de grandes animais, tais como
- O momento das extinções de espécies
- As preferências alimentares dos animais
- As exigências climáticas e de habitat
- Estimativas genéticas do tamanho de populações passadas
- Evidências de caça humana
Além disso, incluíram uma vasta gama de estudos de outros domínios necessários para compreender o fenómeno, tais como
- História do clima nos últimos 1-3 milhões de anos
- História da vegetação ao longo dos últimos 1-3 milhões de anos
- Evolução e dinâmica da fauna nos últimos 66 milhões de anos
- Dados arqueológicos sobre a expansão humana e o estilo de vida, incluindo as preferências alimentares
De acordo com os investigadores, as dramáticas alterações climáticas ocorridas durante os últimos períodos interglaciais e glaciais, conhecidos como o Pleistocénicotardio, de 130 000 a 11 000 anos atrás, afetaram as populações e a distribuição de animais e plantas de grande e pequeno porte em todo o mundo.
No entanto, apenas foram observadas extinções significativas apenas entre os animais de grande porte, especialmente os maiores.
Uma observação importante é que os períodos glaciares e interglaciares anteriores, igualmente dramáticos, ocorridos nos últimos dois milhões de anos, não causaram uma perda seletiva de megafauna.
Especialmente no início dos períodos glaciares, as condições de frio e seca causaram extinções em massa em algumas regiões, como as árvores na Europa. No entanto, não se verificaram extinções seletivas de animais de grande porte.
“A grande e muito seletiva perda de megafauna ocorrida nos últimos 50.000 anos é única nos últimos 66 milhões de anos” explica Jens-Christian Svenning, investigador da Universidade de Aarhus e primeiro autor do artigo.
“Períodos anteriores de alterações climáticas não conduziram a grandes extinções selectivas, o que contraria o papel importante atribuído ao clima nas extinções da megafauna”, acrescenta Svenning.
“Outro padrão significativo que argumenta contra um papel do clima é o facto de as recentes extinções da megafauna terem sido tão graves em áreas climaticamente estáveis como em áreas instáveis”, realça o investigador.
Os arqueólogos encontraram armadilhas concebidas para animais de grande porte e as análises de isótopos de ossos humanos antigos e de resíduos proteicos de pontas de lança mostram que caçavam e comiam os maiores mamíferos.
“Os primeiros humanos modernos eram caçadores eficazes mesmo das maiores espécies animais e tinham claramente a capacidade de reduzir as populações de animais de grande porte”, diz Svenning.
“Estes animais de grande porte eram e são particularmente vulneráveis à sobre-exploração porque têm longos períodos de gestação, produzem muito poucas crias de cada vez e demoram muitos anos a atingir a maturidade sexual“, detalha o cientista dinamarquês.
A análise mostra que a caça humana de animais de grande porte, como mamutes, mastodontes e preguiças gigantes, foi generalizada e consistente em todo o mundo.
Também mostra que as espécies se extinguiram em alturas muito diferentes e a ritmos diferentes em todo o mundo. Em algumas áreas locais, a extinção ocorreu muito rapidamente, enquanto noutros locais demorou mais de 10.000 anos.
Mas, em todo o lado, ocorreu após a chegada dos humanos modernos ou, no caso de África, após os avanços culturais entre os humanos.
A comprovar-se esta teoria, é mais uma demonstração de que a maior ameaça à vida neste planeta é…o ser humano.