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Nova técnica usa gordura para “cultivar” orelhas

Simon James / Flickr

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Médicos do hospital Great Ormond Street, em Londres, estão a criar uma nova forma de reconstruir partes do rosto com células estaminais obtidas a partir de amostras de gordura do próprio paciente.

A equipa já conseguiu criar cartilagem em laboratório e acredita que a técnica pode ser usada para refazer orelhas e narizes.

O estudo com a descrição do novo método foi publicado na revista Nanomedicine.

Especialistas acreditam que ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas que a técnica tem potencial.

Os médicos querem tratar condições congénitas como a microtia, na qual há uma malformação ou ausência completa da orelha.

Até ao momento, a técnica mais comum para corrigir esse problema em crianças envolve a recolha de cartilagem das suas costelas.

Depois, o tecido é esculpido cuidadosamente por cirurgiões para que se assemelhe ao formato de uma orelha. Em seguida, a “orelha” é implantada no paciente.

Esse método requer várias operações e deixa cicatrizes no peito. Além disso, a cartilagem das costelas nunca se recupera.

Molde

A equipa de médicos do Great Ormond Street Hospital procura uma forma de obter uma pequena amostra de gordura da criança de modo a que células estaminais (células indiferenciadas que podem mudar e assumir qualquer função no organismo) sejam extraídas e cultivadas.

Essas células são colocadas num molde em formato de orelha para que assumam a forma desejada. Produtos químicos adicionados ao processo fariam com que as células se transformassem em cartilagem.

O resultado final pode ser implantado sob a pele da criança.

Os cientistas já conseguiram criar a cartilagem no molde, mas são necessários testes de segurança antes que o material possa ser usado nos pacientes.

“É animador termos obtido células não-cancerígenas, que podem ser implantadas sem haver o risco de o sistema imunológico do paciente as combater”, diz a cientista Patrizia Ferreti, um dos membros da equipa, em entrevista à BBC.

“Fazer esta reconstrução com uma única cirurgia seria muito importante para reduzir o stress imposto à criança. Esperamos que esta nova cartilagem cresça com a criança.”

Nova orelha

A técnica poderia ajudar pacientes como Samuel Clompus, de 15 anos, que já fez uma cirurgia de reconstrução da orelha.

BBC

Samuel Clompus, de 15 anos, pode ser beneficiado pela nova técnica

Samuel Clompus, de 15 anos, antes da operação para reconstruir a orelha

A mãe de Samuel, Sue, diz que a família está feliz com os resultados da investigação.

“Ele tem uma cicatriz que ainda hoje o incomoda bastante. Com a nova técnica, isso seria evitado”, afirma Sue.

O método ainda poderia ser usado para criar cartilagem para outras partes do rosto, como o nariz, que pode ser danificado em adultos após cirurgias para remoção de tumores.

Os médicos dizem ainda que poderiam fazer ossos com a mesma técnica.

“Obviamente ainda estamos só a começar. O próximo passo é aperfeiçoar a escolha do material inicial e desenvolver melhor a técnica”, afirma Ferretti.

Ao comentar o estudo, o cirurgião Martin Birchall, da Universidade College London, diz que a técnica pode ser “transformadora“.

O cirurgião esteve envolvido nas primeiras operações para implantar, em pacientes, canais respiratórios criados em laboratório.

Birchall afirma que a nova técnica ainda requer testes.

“No meu caso, usámos células estaminais obtidas da medula óssea porque elas tinham sido usadas em transplantes em 10 mil pessoas. É muito provável que não haja problemas com as células de gordura, mas a sua segurança ainda não foi comprovada.”

ZAP / BBC

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