Maria D. Guillén / IPHES-CERCA / Elena Santos / CENIEH

As ossadas descobertas em Espanha terão entre 1,1 e 1,4 milhões de anos, destronando o Homo antecessor da lista dos hominídeos mais antigos da Europa Ocidental.
Uma descoberta no norte de Espanha está a pôr em causa o que sabíamos sobre a história dos primeiros seres humanos na Europa Ocidental. Os arqueólogos desenterraram os mais antigos ossos faciais de hominídeos conhecidos na região, que terão entre 1,1 e 1,4 milhões de anos, pondo em causa as anteriores suposições sobre a primeira espécie humana a habitar a área.
O fóssil, apelidado de “Pink”, foi encontrado no sítio de Sima del Elefante, na Serra de Atapuerca. Os investigadores acreditam que representa uma nova linhagem humana, distinta do Homo antecessor, que durante muito tempo foi considerado o primeiro hominídeo a chegar a esta parte da Europa.
Com base numa análise preliminar, Pink foi classificado como Homo aff. erectus — uma designação ambígua que indica uma semelhança com o Homo erectus, mas que deixa em aberto a possibilidade de pertencer a uma espécie totalmente diferente.
“Esta descoberta introduz um novo ator na história da evolução humana na Europa. Permite-nos afirmar que, durante o início do Pleistoceno, mais do que uma espécie humana viveu na Europa e que o primeiro hominídeo da Europa Ocidental não foi o Homo antecessor, como se pensava anteriormente”, explica Rosa Huguet, autora principal do estudo, que foi publicado na Nature.
Até agora, os fósseis humanos mais antigos da Europa Ocidental pertenciam ao Homo antecessor e tinham entre 800 mil e 900 mil anos, tendo sido encontrados a apenas 250 metros do local onde Pink foi encontrado. Os restos mortais de Pink, no entanto, são significativamente mais antigos e exibem uma morfologia facial distinta, explica o IFLScience.
De acordo com María Martinón-Torres, co-autora do estudo, esta nova espécie distingue-se do Homo antecessor devido aos seus traços mais primitivos. “O Homo antecessor partilha com o Homo sapiens um rosto de aspeto mais moderno, enquanto as caraterísticas faciais do Pink são mais primitivas, assemelhando-se ao Homo erectus, particularmente na sua estrutura nasal plana e subdesenvolvida”.
A descoberta preenche uma lacuna crucial na cronologia das primeiras migrações humanas. Os mais antigos fósseis de hominídeos fora de África foram encontrados em Dmanisi, na Geórgia, e datam de há 1,8 milhões de anos. Estes restos, classificados como Homo georgicus, são considerados uma forma primitiva do Homo erectus, que mais tarde colonizou grande parte da Europa de Leste e da Ásia.
As escavações em Sima del Elefante também descobriram ferramentas de pedra e restos de animais abatidos, indicando que o Homo aff. erectus era um caçador exímio. No entanto, há cerca de um milhão de anos, esta população inicial parece ter sido substituída pelo Homo antecessor. Os cientistas ainda não têm a certeza se estas duas espécies coexistiram ou se uma desapareceu antes da chegada da outra.