Ponte de Baltimore: navio tinha químicos perigosos. Área é perigosa

Jim Lo Scalzo/EPA

Contentores no Porto de Baltimore. Tráfego fluvial está suspenso na zona

56 contentores estavam dentro do cargueiro que chocou com a ponte nos EUA. Alguns caíram à água depois do impacto.

O navio cargueiro responsável pelo desabamento de uma ponte em Baltimore, nos Estados Unidos, transportava 56 contentores com materiais químicos perigosos, sendo que alguns caíram à água depois do impacto, disseram investigadores.

A presidente do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes norte-americano disse que os 56 contentores continham 764 toneladas de materiais corrosivos e inflamáveis, incluindo baterias de lítio.

Jennifer Homendy acrescentou, em conferência de imprensa, que alguns dos contentores se partiram com o embate contra a ponte Francis Scott Key na terça-feira e caíram ao rio Patapsco, no estado de Maryland, no leste dos Estados Unidos.

Homendy disse que a área neste momento “é perigosa” devido à quantidade de detritos e ao mau tempo, o que tem impedido as equipas de mergulhadores de verificar o estado dos contentores que caíram do navio MV Dali, com bandeira de Singapura desde 2016.

O governador de Maryland, Wes Moore, disse que os mergulhadores estavam “lá em baixo, na escuridão, onde podem literalmente ver cerca de 30 centímetros à frente deles”, e rodeados por metal mutilado.

Jennifer Homendy previu que a investigação sobre o acidente e o desabamento da infraestrutura, que causou a morte de seis trabalhadores que tapavam buracos na ponte, vai demorar entre um e dois anos.

As autoridades norte-americanas recuperaram na quarta-feira os corpos de dois dos seis trabalhadores dados como mortos.

Na quarta-feira à noite, a agência de investigação de acidentes de transporte de Singapura anunciou, em comunicado, o início de uma segunda investigação ao navio, para “identificar lições para prevenir futuros acidentes e vítimas” e não apontar responsabilidades.

Horas antes, a Autoridade Marítima e Portuária de Singapura tinha anunciado que ia também abrir uma investigação própria sobre o acidente, além de prometer estar em contacto com a Guarda Costeira dos EUA para “prestar a assistência necessária”.

Isto apesar da autoridade sublinhar que o navio tinha a documentação em ordem, com certificados válidos que cobriam “a integridade estrutural do navio e a funcionalidade do seu equipamento”, e que passou duas inspeções em junho e setembro.

Também na quarta-feira, a Guarda Costeira norte-americana disse que o Dali tinha passado por “manutenção de rotina do motor” no porto de Baltimore antes do acidente.

“No que diz respeito ao motor, não fomos informados de nenhum problema com o navio”, disse o contra-almirante da Guarda Costeira dos EUA, Shannon Gilreath, numa conferência de imprensa.

As autoridades também alertaram para as consequências económicas do desabamento da ponte, utilizada por mais de 11 milhões de veículos por ano, e do bloqueio do porto de Baltimore, o nono maior dos EUA.

Reconstrução

As autoridades norte-americanas reconheceram que a reconstrução da ponte “não será rápida, fácil ou barata” e apontaram como prioridade a reabertura do tráfego fluvial.

“Ainda não conhecemos totalmente o estado das partes da ponte que ainda estão de pé ou que têm infraestruturas sob a superfície da água, pelo que a reconstrução não será rápida, fácil ou barata, mas lá chegaremos”, disse o secretário dos Transportes, Pete Buttigieg, em conferência de imprensa citada pela agência noticiosa Efe.

Na Casa Branca, após uma reunião com o Presidente norte-americano, Joe Biden, Buttigieg fez-se acompanhar pelo vice-almirante Peter Gautier, vice-comandante das operações da Guarda Costeira dos Estados Unidos da América.

O responsável com a tutela dos transportes garantiu que Biden deixou claro que “toda a administração dará apoio em todos os aspetos do processo de recuperação e reconstrução”.

O Departamento dos Transportes disse ter quatro prioridades: reabrir o porto, lidar com as perturbações da cadeia de abastecimento até à reabertura do porto, reconstruir a ponte e lidar com as implicações para os transportes terrestres até à conclusão da reconstrução.

Nesse sentido, a Guarda Costeira e o Corpo de Engenheiros do Exército vão coordenar uma resposta para desobstruir o canal e reabrir o porto para que possa voltar a funcionar em pleno.

“Estamos preocupados com o impacto económico local, com cerca de 8.000 postos de trabalho diretos associados às atividades portuárias e estamos preocupados com as implicações que se estenderão além da região”, afirmou.

O navio cargueiro “Dali” embateu num pilar da ponte Francis Scott Key, fazendo-a desmoronar e submergir no rio, juntamente com vários veículos.

Depois de procurar sobreviventes nas águas, a Guarda Costeira dos EUA indicou que, tendo em conta a hora e a temperatura, considerava que os seis desaparecidos estavam mortos.

O bloqueio do porto de Baltimore, o nono maior dos EUA, deverá ter graves consequências económicas para a região.

Tanto a polícia local como o secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas, afirmaram não haver indícios de que se tenha tratado de um ato terrorista ou sequer propositado, mas o FBI (polícia federal norte-americana) já se juntou às investigações.

A ponte Francis Scott Key (batizada em homenagem ao autor da letra do hino dos Estados Unidos) era a maior desta cidade do estado de Maryland, com 2.632 metros de comprimento, e suportava a passagem de mais de 11 milhões de veículos por ano.

Imortalizada na série norte-americana “The Wire”, começou a ser construída sobre o rio Patapsco em 1972 e foi inaugurada em 23 de março de 1977.

ZAP // Lusa

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