/

Mutação genética de 700 milhões de anos explica origem de alguns órgãos humanos

Centre for Genomic Regulation

Mutação genética que ocorreu há 700 milhões de anos contribuiu para o desenvolvimento de certos órgãos do corpo humano.

Uma mutação genética que ocorreu há mais de 700 milhões de anos, no âmbito da evolução biológica, contribuiu para o desenvolvimento de certos órgãos e de estruturas complexas do corpo humano e de outros seres vertebrados.

Esta é a conclusão de um estudo científico liderado pelo professor Manuel Irimia, do Centro para a Regulação Genómica (CRG), organização internacional de pesquisa biomédica, e que foi publicado na revista Nature Communications.

A pesquisa fala de “um acaso no processo evolutivo, sem nenhum propósito biológico aparente”, que provocou esta mutação genética fundamental para o desenvolvimento da espécie humana como hoje a conhecemos.

A mutação terá ocorrido numa fase muito inicial da evolução biológica, após a separação do nosso grupo do grupo das anémonas do mar, explica o CRG num comunicado sobre a investigação.

Esse “erro aleatório” no processo de evolução “despoletou, milhares de anos mais tarde, a ligação entre duas redes reguladoras de genes” que se tornou “fundamental para a origem de muitos órgãos e estruturas de vertebrados“, nomeadamente, pulmões, ouvido interno e antebraços, explicam os investigadores.

A mutação facilitou a ligação da rede de genes envolvidos no desenvolvimento do embrião animal, designadamente um gene da família do Fgfr (receptores do factor de crescimento de fibroblastos) e a ESRP, uma família de proteínas reguladoras.

Estes genes, especialmente os da família da ESRP, controlam a forma como são codificadas as proteínas, para assumirem determinadas funções. São uma espécie de “interruptor molecular” que determina como é que as células se comportam e como interagem com as suas vizinhas, durante o desenvolvimento embrionário. Quando não estão presentes, o processo desenrola-se de forma diferente e as proteínas assumem outras funções.

Os investigadores estudaram “as funções dos genes ESRP durante a embriogénese de vários animais”, explica Manuel Irimia, citado pelo CRG.

“Os nossos resultados sugerem que estes genes fizeram parte de uma maquinaria genética antiga, partilhada por animais tão diferentes como peixes, ouriços-do-mar ou nós próprios, que controla a integração de certas células nos revestimentos dos órgãos em desenvolvimento”, explica.

“Este é um passo fundamental na formação de alguns órgãos e é o reverso do processo que é central à metástase do cancro, através do qual as células deixam o tumor para colonizar outras partes do corpo”, acrescenta o investigador.

Aquilo que “é surpreendente descobrir” é que “um único gene (ESRP), através do seu papel biológico ancestral (aderência celular e motilidade), tem sido usado em toda a escala animal para fins muito diferentes: do sistema imunitário de um equinodermo [grupo de animais marinhos que incluem as estrelas-do-mar] aos lábios, pulmões ou ouvido interno dos humanos”, refere, por seu turno, o professor Jordi Garcia-Fernàndez, da Universidade de Barcelona, também envolvido na pesquisa e igualmente citado pelo CRG.

Garcia-Fernàndez destaca que “a nova descoberta confirma quão versátil é a evolução biológica”, com “a mesma fundação e ferramentas genéticas” a poderem ser “usadas para construir uma cabana de madeira ou um arranha-céus“.

Mas aquilo que é verdadeiramente “excepcional”, nas conclusões da pesquisa, é “como o acaso é tão importante para a evolução”, conclui.

SV, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.