Íris Redol, de 26 anos, acusa o dono do Teatro Maria Vitória, em Lisboa, de a ter despedido por ser uma mulher trans. A actriz Marta Gil corrobora esta versão.
Formada em design de moda, este era o primeiro emprego de Íris Redol como assistente de camarim e “estava a ir tudo muito bem”, conta ao Observador, notando que recebeu “elogios” e que “estava a ser tudo óptimo”.
Mas após três dias de trabalho, Íris Redol foi despedida depois de se ter cruzado, pela primeira vez, com o director e dono do Teatro Maria Vitória, Hélder Freire Costa, no camarim do actor Paulo Vasco, onde diz ter sentido “olhares” alegadamente preconceituosos do empresário.
Dois dias depois desse encontro, recebeu um telefonema a dizer que não precisava de ir ao Teatro. E, no dia seguinte, Íris diz que o produtor do Teatro Maria Vitória, André Camilo, a informou de que estava despedida.
“Não é preciso vires mais porque o Hélder [Freire Costa] recusa-se a aceitar que tu és uma mulher, recusa-se a aceitar a tratar-te com o nome e não te quer mais a trabalhar aqui, não aceita o que tu és“, terá dito André Camilo, conforme relata Íris Redol ao Observador.
“Ele só me pedia desculpa, fiquei sem reação ao telefone”, acrescenta.
“Isto não é uma palhaçada”, diz dono do Maria Vitória
Hélder Freire Costa justifica o despedimento com o facto “não ter sido consultado” quanto à contratação, e diz que “nem toda a gente serve para estar nos camarins”, conforme declarações ao jornal Nascer do Sol, o primeiro a reportar o caso.
“Os camarins têm valores”, acrescenta o empresário de 83 anos, que tem mais de 58 anos dedicados ao teatro, sendo uma figura central na gestão do Maria Vitória, um dos espaços icónicos do Parque Mayer, e na preservação do teatro de revista em Portugal.
O produtor confirma o encontro com Íris Redol no teatro, notando que foi “confrontado com uma pessoa nos camarins com voz de homem“, e que tinha “quase dois metros de altura” e era “forte”.
“Eu fiquei: ‘Então mas o que é isto? O Carnaval já passou’”, relata ao Nascer do Sol.
Hélder Freire Costa diz que foi assim que soube que se tratava da nova assistente de camarim. “Mas com autorização de quem?”, terá perguntado na altura, conforme o próprio relata ao mesmo jornal.
“Não entra aqui qualquer pessoa. Nos bastidores de qualquer teatro, não entram pessoas sem o patrão saber. As bailarinas podem estar despidas. Se se despem, têm de ter confiança com quem cá está”, acrescenta.
“Isto é um teatro onde trabalharam as maiores figuras do nosso país”, “não é uma palhaçada”, continua, concluindo que “se é homem, tem de dizer que é homem, se é mulher tem de dizer que é mulher“.
Íris Redol riposta, em declarações ao Observador, que “não é pela segurança das bailarinas, a questão claramente não é essa”. “Ele não gostou de ter uma pessoa trans a trabalhar ali“, considera.
Caso de Transfobia no Teatro Maria Vitória https://t.co/dD3R4geMeG
— Jornal SOL (@SolOnline) April 11, 2025
“Toda a gente sabe que a Íris foi despedida por ser trans”
Foi a anterior assistente de camarim, Camila Fernandes, quem indicou Íris Redol para a substituir, e relata ao Observador que “teve o cuidado de informar previamente a produção do Teatro Maria Vitória de que seria substituída por uma pessoa trans”.
“Já tinha consciência de que o [Hélder Freire] Costa, por ser uma pessoa de idade e de outros tempos, era um pouco preconceituoso e com algumas questões”, nota.
“Não faz o menor sentido, uma pessoa completamente competente para fazer um trabalho ser demitida simplesmente por ser quem é”, diz ainda.
A atriz Marta Gil, uma das actrizes que protagoniza “E Ninguém Vai Preso?”, peça actualmente em cena no Maria Vitória, refere ainda ao Observador que “toda a gente sabe que o facto de a Íris ter sido despedida foi por ser trans“.
“É uma situação triste e lamentável isto em 2025 acontecer num teatro que para mim é um sítio de liberdade, um sitio onde todos nós podemos ser o que quisermos, e isso não aconteceu”, lamenta ainda a actriz.
O actor Miguel Sousa conta também ao Nascer do Sol que pensou em despedir-se quando chegou ao Teatro “e circulava esta informação de que a Íris tinha sido despedida por ser trans“.
“Se há um sítio que deve ser seguro para toda a gente, é este, o núcleo das artes. E não foi isso que aconteceu”, desabafa Miguel Sousa.
Entretanto, Íris Redol procurou apoio jurídico junto da Opus Diversidades, uma organização não governamental que actua na defesa dos direitos humanos das pessoas LGBTQI+.
Efetivamente trata-se de uma palhaçada. O Homem é o dono do negócio, trabalha com ele quem ele quiser, ou isso de Liberdade só funciona numa via ?
È assim mesmo Hélder.
Conheço Hélder há 58 anos. Já nessa altura ouvi um raspanete dele, por ter entrado no camarim duma atriz, tinha 14 anos e ia receber uma prestação de uma compra que a Cidália Moreira fez ao meu pai.
Homem integro e amigo do seu amigo… bem visto pelas atrizes e muito cortês.
Mulher trans é mulher? Feministas, pronunciem-se por favor.
Mulher trans não existe ou é mulher ou é trans. Será que também em Portugal é necessário um tribunal explicar o que é uma mulher para acabar com estes wokismos.
Transfobia? O que vejo é que foi preciso um homem para defender os espaços das mulheres, o que, para mim, é profundamente triste. Devia ser justamente das mulheres que partisse essa resistência.
Será que ainda não se percebe que certos direitos reclamados pelo movimento trans entram em conflito direto com os direitos das mulheres?
Se qualquer pessoa pode simplesmente declarar-se mulher, então o próprio significado de ser mulher esvazia-se. E com isso, todos os direitos que foram arduamente conquistados para proteger as mulheres começam a ruir, desde casas de banho e balneários, até asilos, desporto, camarins e outros espaços seguros. Qualquer Homem que invada algum desses espaços basta dizer que se identifica como mulher e está protegido de qualquer retaliação.
Tudo se desmorona se deixarmos que a definição de mulher se torne maleável ao ponto de perder qualquer sentido.
O que, subsequentemente, levanta a questão: terá sido esse o intuito, minar os direitos conquistados pelas mulheres…?