Apesar de ser perigosa, a areia movediça não é tão assustadora como os filmes a fazem parecer. Geralmente, as pessoas não se afundam para além da cintura.
Quantos de nós já viram filmes em que a areia movediça é uma armadilha mortal para o protagonista? A ficção alimentou a ideia de que esta areia é uma sentença de morte mas, afinal, o perigo não é assim tanto, nota o Interesting Engineering.
A areia movediça é definida pelo Merriam-Webster como uma “massa profunda de areia misturada com água em que objectos pesados se afundam rapidamente”. Assim, é um tipo de colóide – uma mistura especial de partículas insolúveis dispersadas microscopicamente suspensa noutra substância, como água.
A sua formação acontece quando areia solta saturada é agitada de repente e a suspensão de água não consegue escapar. Os colóides não seguem as regras da física normais e, tal como a pasta de dentes ou alguns xaropes, parecem sólidos inicialmente, mas fluem quando lhes é aplicada alguma pressão
Esta pressão é o que acontece quando alguém tropeça sobre areia movediça, com o choque do seu peso a destruir o frágil equilíbrio entre a areia ou lama e a água. A areia começa a separar-se da água, o que leva a que a areia molhada não suporte o peso da pessoa, que se começa a afundar.
Caso a pessoa fique calma, eventualmente o equilíbrio da areia movediça vai ser restaurado, o que impede que se afunde mais. No entanto, quem entra em pânico e se começa a mexer para tentar escapar vai perturbar o sistema e piorar a situação.
A formação da areia movediça é mais provável em certos locais, como cavidades na foz de um rio grande, em partes planas no fluxo de água, praias onde pequenas piscinas fiquem parcialmente cheias com areia e lugares onde uma camada de argila seca previna a drenagem.
As leis da física protegem-nos
Mas ao contrário do que se possa pensar, cometer o erro de pisar areia movediça não significa automaticamente que se vai morrer afundado, pelo contrário, já que é muito difícil uma pessoa ficar completamente submersa.
Apesar de ser perigosa, a areia movediça não pode desafiar outras leis da física – mais especificamente a flutuabilidade.
A densidade da mistura entre a água e a areia que forma a areia movediça excede a do corpo humano, por isso não é fácil uma pessoa afundar-se completamente. A densidade da água, por exemplo, é de 1 kg/L.
O corpo humano é maioritariamente feito de água, mas também tem outros materiais mais densos, como músculo. Mesmo assim, a densidade do corpo humano não é muito diferente da da água, sendo de cerca de 1,010 kg/m3.
Por esta razão, caso alguém pise areia movediça e não tente resistir, o mais provável é que não se afunde além da cintura. A profundidade da maioria dos lugares com areia movediça também não é muito grande, pelo que a maioria dos adultos consegue ter pé quando se afunda pela cintura.
Teoricamente, continua a ser possível alguém morrer nestas situações, especialmente se perder o equilíbrio e cair completamente na areia movediça, podendo afogar-se, mas estes casos são muito raros.
Uma experiência de um especialista da Universidade de Amesterdão dedicou-se a tentar entender melhor a areia movediça sem colocar ninguém em risco. Para isso, o físico Daniel Bonn recolheu uma amostra e usou missangas de alumínio com uma densidade semelhante à do corpo humano para estudar o que acontece.
O perito simulou o que acontece quando as pessoas se mexem muito ao abanar as missangas e notou que estas se afundaram um pouco mais. Eventualmente, quando a água e a areia se voltam a misturar, as missangas começam a voltar à superfície.
Como escapar à areia movediça?
Para se escapar à areia movediça, a primeira dica é, como já foi referido, não entrar em pânico e evitar movimentos bruscos que disturbem mais a mistura. Uma boa ideia é também tentar controlar a respiração, o que aumenta a flutuabilidade e também ajuda a pessoa a manter a calma.
Caso se esteja a carregar coisas pesadas, como uma mochila ou um casaco, é uma boa ideia tentar tirá-las e atirá-las para uma parte onde o chão é sólido. No entanto, as bengalas ou bastões de caminhada podem ser úteis, já que ajudam a melhorar a flutuabilidade e facilitam a saída da areia.
Deve também manter-se a cabeça e os braços acima da areia, para se poder agarrar a alguma coisa que ajude à saída. Na possibilidade de haver alguém a ajudar, deve puxar a pessoa que se está a afundar lentamente.
O risco de afogamento também aumenta imenso quando a pessoa se deita de barriga para baixo, pelo que a pessoa deve tentar deitar-se de costas muito lentamente e tentar libertar as pernas com pequenos movimentos.
Assim, se alguma vez se encontrar na mesma situação que Indiana Jones, já tem um guia para como escapar as estas areias traiçoeiras.