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Moderna inicia ensaios clínicos para vacina mRNA contra o HIV

Sedat Suna / EPA

Farmacêutica norte-americana planeia avaliar três potenciais vacinas contra o HIV em 2021. No entanto, não é expectável que alguma seja disponibilizada ao grande público até 2023 — apesar do encurtamento no tempo de desenvolvimento destes instrumentos que a covid-19 veio introduzir.

Depois da covid-19 e da gripe, a Moderna prepara-se para testar a tecnologia de mRNA numa vacina contra o HIV, uma aposta que é vista pelos cientistas como a melhor esperança para derrotar o vírus de forma permanente.

De acordo com as informações que constam do registo do ensaio clínico, a farmacêutica iniciou os ensaios clínicos relativos à segurança da vacina, tendo usado as mesmas bases da vacina contra a covid-19, assim como à resposta imunitária gerada num grupo pequeno de voluntários — cerca de 56.

Os mais recentes esforços da Moderna para desenvolver uma vacina contra o HIV foram anunciados em abril e resultam de uma parceria com a International AIDS Vaccine Initiative (IAVI) e a Bill and Melinda Gates Foundation. Na altura, a farmacêutica revelou que iriam ser testadas duas potenciais candidatas, com os nomes de mRNA-1644 e mRNA-1574.

De acordo com o site Gizmodo, existem atualmente antivirais que conseguem erradicar a maior parte dos sinais da presença do vírus nas pessoas infetadas — sendo também possível impedir as pessoas expostas de serem infetadas.

Ainda assim, o vírus dispõe de mecanismos para contornar estas defesas e, assim, espalhar-se pelo corpo. Nestes mecanismos inclui-se a capacidade do vírus mutar partes da sua estrutura, o que dificulta a tarefa dos anticorpos produzidos pelo sistema imunitário em reconhecê-lo.

Durante décadas, soube-se que algumas pessoas conseguiam produzir anticorpos capazes de neutralizar com grande eficácia o VIH nas suas múltiplas estirpes. Estes anticorpos concentram-se em partes estáveis do vírus que, regra geral, não sofrem grandes alterações, o que lhes permite permanecer eficazes.

Como tal, esta é uma estratégia frequentemente usada para o desenvolvimento de vacinas contra o HIV — nas quais o sistema imunitário é induzido a produzir estes anticorpos de forma independente, tal como algumas pessoas conseguem fazer. No entanto, todas as tentativas feitas neste sentido foram infrutíferas.

Agora, a Moderna acredita que a sua plataforma de vacinas, juntamente com a nova tecnologia mRNA, pode interagir melhor com o sistema imunitário para lhe solicitar a produção de anticorpos.

Na primeira fase dos ensaios clínicos, destinados a testar a segurança da vacina, os cientistas também vão estar atentos à resposta imunitária dos voluntários, principalmente no que respeita às células B, responsáveis por produzir e manter os anticorpos — o que lhes deve dar sinais sobre a viabilidade do ensaio ser bem sucedido.

As vacinas mRNA funcionam através da codificação do vírus (alvo) que pretendem atacar, presente no material genético que é entregue às células. Estas, posteriormente, produzirão o alvo por si próprias, o que despoletará uma resposta imunitária. Como foi possível constatar com a covid-19, o processo de desenvolvimento destas vacinas é mais rápido do que o das vacinas tradicionais.

A Moderna já fez saber que planeia iniciar três ensaios clínicos com formulações candidatas à vacina contra a o HIV. No entanto, mesmo que estes sejam bem sucedidos é provável que se demore anos até que uma vacina bem sucedida chegue ao público. O atual estudo da Moderna, atualmente na primeira fase, só deverá terminar em 2023.

Se se considerar que antes da covid-19 o período normal de aprovação total de uma vacina era de cinco anos, um período que só foi encurtado face ao elevado grau de difusão do vírus em todo o mundo — algo que não acontece com o HIV — é expectável que os cientistas demorem algum tempo a recolher dados que atestem o nível de eficácia da vacina.

Ana Rita Moutinho, ZAP //

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