Mistério desvendado: corujas entalhadas com 5.000 anos eram brinquedos pré-históricos

J.J.Negro et al / Scientific Reports

Uma equipa de cientistas espanhóis poderá ter resolvido o mistério de milhares de peças entalhadas com figuras de corujas com 5.000 anos encontradas na Península Ibérica.

Os arqueólogos estão há muitos anos a tentar desvendar a função de placas de ardósia entalhadas, com a forma de corujas, que eram até agora geralmente consideradas representações de deuses, com propósitos rituais.

Mas um novo estudo, publicado esta quinta-feira na Scientific Reports, lança agora uma hipótese que parece ser mais realista: eram brinquedos infantis.

A teoria é baseada no facto de que grande parte das placas foi encontrada em túmulos e habitações ancestrais — ou seja, em contextos arqueológicos que não estão ligados a nenhum uso ritual das representações animais.

A aparência informal dos entalhes também levantava dúvidas quanto à natureza ritualística das placas. Os autores do estudo propuseram-se então explorar uma eventual função lúdica das placas.

Segundo a Live Science, os investigadores analisaram 100 exemplares das placas de ardósia trabalhada, e registaram as características relacionadas com as corujas nelas representadas — como os tufos de penas, padrões de penugem, bicos, asas e forma do disco facial.

J.J.Negro et al / Scientific Reports

As representações foram comparados com outras 100 imagens de corujas desenhadas no início deste ano por crianças de 4 a 13 anos em escolas do sudeste da Espanha. Os professores tinham pedido aos alunos os alunos que fizessem os seus desenhos em menos de 20 minutos, sem maiores explicações.

As semelhanças entre as representações, segundo os cientistas, são incríveis: mostram que as crianças dos nossos dias têm uma visão do que é uma coruja muito semelhante (ou até mesmo idêntica) à que as crianças do passado tinham.

J.J.Negro et al / Scientific Reports

Não é conhecida a forma como as crianças brincariam com as corujas de ardósia, mas muitas das placas têm furos na parte superior, onde teria sido possível inserir penas verdadeiras.

Além do caráter lúdico, os objetos teriam funções práticas para a comunidade, como o treino de habilidades pré-históricas.

Fabricar os brinquedos teria sido uma forma de ensinar às crianças diversas técnicas de gravura e escultura, essenciais para a produção de outros objetos, como facas ou pontas de flechas, úteis no dia-a-dia da época antigo.

“A minha primeira impressão, ao olhar para as gravações, é que eram muito simples de fazer”, diz o biólogo Juan J. Negro, investigador do Consejo Superior de Investigaciones Científicas de Espanha e autor principal do estudo. “Os seus autores não investiam muito tempo a fazê-las e podiam acabá-las em algumas horas”.

“Estas corujas entalhadas parecem fazer parte de um processo de aprendizagem para crianças”, acrescenta o investigador.

As brincadeiras pré-históricas fazem parte de um campo pouco explorado na arqueologia, porque muitos dos materiais usados no fabrico de brinquedos, como cordas, peles e madeira, eram perecíveis — o que torna difícil encontrar objetos bem preservados cujo estudo permita identificar claramente a sua função.

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