Uma nova pesquisa acredita que o estranho mistério dos “mares leitosos” avistados pelos marinheiros está relacionado com fenómenos climáticos como o El Niño.
Um novo estudo publicado na Earth and Space Science está a lançar uma nova luz sobre um misterioso fenómeno marinho que confunde os marinheiros há séculos: o brilho surreal e fantasmagórico dos “mares leitosos”.
O fenómeno, muitas vezes comparado a cenas de ficção científica, envolve grandes secções do oceano que emitem uma luz contínua e pálida – por vezes estendendo-se por dezenas de milhares de quilómetros quadrados e durando dias ou mesmo semanas.
Em janeiro de 1967, os membros da tripulação a bordo do SS Ixion testemunharam um desses espectáculos enquanto navegavam no Mar Arábico. De acordo com o segundo oficial J. Brunskill, o mar parecia brilhar “de horizonte a horizonte” com uma luz fraca e fosforescente semelhante à de um relógio luminoso. A visão causou vertigens nalguns membros da tripulação e uma sensação de mal-estar, reminiscente dos receios dos antigos marinheiros de navegarem no desconhecido.
Um acontecimento igualmente dramático ocorreu na mesma região nove anos mais tarde, quando a tripulação do MV Westmorland observou o mar e o céu a brilharem num verde intenso. Estes fenómenos estranhos fazem parte de um padrão de avistamentos que remonta a séculos e, no entanto, a sua origem permanece largamente inexplicada.
A nova investigação apresenta a primeira base de dados abrangente de avistamentos de mares leitosos compilada em mais de 30 anos. É importante referir que a equipa cruzou estes relatos históricos com observações de satélite utilizando sistemas avançados de imagem de baixa luminosidade, frisa o Debrief.
Os autores sugerem uma potencial ligação entre os mares leitosos e os padrões climáticos de grande escala, como o El Niño e o Dipolo do Oceano Índico. Estas descobertas poderão ajudar os cientistas a começar a prever quando e onde o fenómeno poderá ocorrer.
Pensa-se que os mares leitosos são uma forma rara de bioluminescência marinha, causada por bactérias que emitem uma luz esbranquiçada constante em condições oceânicas específicas. Hudson e Miller descrevem a experiência de encontrar um mar leitoso como se estivesse a navegar numa planície nevada ou numa cena de The Twilight Zone.
O estudo também apela a uma colaboração renovada entre as comunidades científica e marítima para reavivar redes históricas, como o programa Marine Observer, para recolher dados de futuros avistamentos.