Uma das empresas sob suspeita da PJ e do DIAP de Lisboa no âmbito da Operação Miríade é, na realidade, um pequeno armazém de material de construção civil.
Há mais de 40 empresas e 70 pessoas envolvidas na rede de tráfico dos Comandos na República Centro-Africana. Uma das empresas sob suspeita da PJ, a Apirest Diamond, é uma empresa que, segundo o Expresso, se dedica à importação, exportação, comércio, indústria, extração, fundição, armazenagem, representação e distribuição de minérios metálicos, especialmente diamantes em bruto e pedras preciosas.
No entanto, a sede desta suposta empresa, em Queluz, não passa de um pequeno armazém onde se guarda material de construção civil. O semanário esteve no local e descreve que dentro do armazém era possível ver um amontoado de baldes de tintas, tábuas e caixotes.
Numa conversa intercetada entre Paulo Nazaré, o alegado líder da rede de tráfico, e Jair C., sócio-gerente da Apirest Diamond, o principal arguido da Operação Miríade diz que a Apirest Diamond “é a empresa que eu tenho aqui para despiste, ok?”.
Noutra conversa entre Jair e o seu gestor de conta, escreve o Expresso, o primeiro diz que esta empresa serve para ocultar a proveniência do dinheiro dos negócios ilegais de tráfico de diamantes. O capital social da Apirest Diamond é de apenas 1.999 euros e os relatórios de contabilidade não corroboram os valores envolvidos nas transações ilegais.
O esquema terá sido denunciado por um intérprete da missão na RCA ao qual Paulo Nazaré, o principal arguido neste caso, terá prometido 20% dos dividendos de um negócio de diamantes.
Numa das escutas, dois arguidos falam sobre uma das operações em curso, que envolveria um montante superior a 500 milhões de euros.
Segundo a PJ, investiga-se uma rede criminosa que se dedicava ao contrabando de diamantes, ouro e drogas, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas, com o objetivo de branquear capitais.
Suspeita-se que os militares das missões portuguesas na RCA transportavam os bens a bordo de aviões militares, cuja carga não é fiscalizada. Para branquear o dinheiro, os arguidos compravam criptomoedas, recorrendo a testas-de-ferro, que chegavam a receber até 50% dos depósitos.