Ministro britânico compara multa de Boris pelo “partygate” a uma multa de estacionamento

Os comentários surgem no mesmo dia em que Boris se prepara para enfrentar o Parlamento pela primeira vez desde que foi multado. A Câmara dos Comuns vai também votar sobre se o primeiro-ministro mentiu ou não aos deputados.

O Ministro Brendon Lewis, que tem a pasta da Irlanda do Norte no Governo britânico, saiu em defesa de Boris Johnson na ressaca das polémicas festas durante o confinamento em que o primeiro-ministro britânico participou e pelas quais foi recentemente multado.

“Já tivemos primeiros-ministros no passado a ser multados, pelo o que eu vejo. Vi que Tony Blair foi multado por causa do estacionamento uma vez. Os Ministros no passado, infelizmente, já foram multados por causa de muitos problemas. Podem continuar a ser ministros, já vimos isso em Governos Trabalhistas e no actual Governo Conservador”, defendeu, em entrevista à Sky News.

Lewis reforçou ainda que Johnson não mentiu ao Parlamento quando disse inicialmente que as aglomerações em Downing Street não tinham quebrado os protocolos da pandemia, argumentando que o primeiro-ministro acreditava que essa era a verdade na altura.

A comparação de Lewis é inusitada quando foi noticiado em 2007 pelo Oxford Mail que Boris Johnson escreveu num dos seus livros que quando era estudante foi multado várias vezes por estacionamento indevido e que não pagou as coimas, deixando os papéis acumularem-se no pára-brisas até que estes “se desintegrassem com a chuva”.

A polícia britânica abriu uma investigação a 12 reuniões em Downing Street e Whitehall durante confinamentos em 2020 e 2021, depois de terem sido divulgados emails e fotos de membros do Governo em festas quando o resto do país tinha de ficar em isolamento em casa. Até agora, mais de 50 multas foram emitidas e Boris Johnson e o Ministro das Finanças, Rishi Sunak, foram dois dos visados.

Sobre se um legislador pode alguma vez quebrar as leis que ele próprio escreveu, Lewis responde que vemos isso “consistentemente”, seja “através de multas de estacionamento ou multas por excesso de velocidade”.

“O foco tem de estar em aceitar que fizemos algo de errado e reconhecer o que fizemos — algo que o que primeiro-ministro fez — e seguir em frente com as coisas de forma correcta”, remata Lewis, que garante que o líder do Governo anunciará publicamente ser for multado mais alguma vez.

Boris pode ser investigado por alegadamente ter mentido ao Parlamento

As declarações do Ministro surgem no mesmo dia em que Boris Johnson vai ao Parlamento responder aos deputados pela primeira vez desde que foi multado. Espera-se que Boris peça desculpa, mas que tente focar o debate na guerra na Ucrânia e no plano polémico do Governo para o envio de refugiados para o Ruanda.

A oposição não tem poupado às críticas a Boris Johnson e os comentários de Lewis também estão a ser condenados. A Trabalhista Emily Thornberry revela à Sky que o “primeiro-ministro sabia que estava envolvido nas festas” que estavam a acontecer “na sua casa, no seu escritório”.

Os membros do Partido Conservador que contestam a liderança de Boris também criticaram a comparação de Lewis. Tobias Ellwood, que já pediu a demissão do primeiro-ministro, acredita que as multas de Boris não podem ser “banalizadas” ao serem comparadas com coimas de estacionamento.

“Isto é sobre uma cultura de má disciplina, uma falta de liderança e foco durante um tempo de crise nacional que todos atravessamos devido à covid. A consequência de tudo isto é uma erosão da confiança do povo britânico e danos à imagem do partido”, critica o deputado.

Já Bob Seely, também dos Tories, acredita que “todos cometemos erros”, mas sublinha que Boris tem de pedir “a mãe de todas as desculpas” aos britânicos. “É óbvio que os trabalhadores do N.º 10 não achavam que estavam a arriscar a morte ao beberem juntos depois do trabalho. Claramente as regras impostas a todos não foram seguidas por alguns”, revela o deputado Conservador à Radio 4 da BBC.

Os partidos da oposição também pediram ao Presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, que abra um debate e uma investigação do comité de privilégios que deve culminar num voto sobre se Boris Johnson mentiu ou não ao Parlamento. Hoyle marcou a votação para quinta-feira.

Adriana Peixoto, ZAP //

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