Tal como os humanos estão a influenciar o clima da Terra, é possível que o clima frio e seco de Marte tenha sido causado por micróbios que alteraram fundamentalmente a atmosfera do planeta — tão fundamentalmente que até terão causado a sua própria extinção.
Parece que os humanos não são a única espécie que se arrisca a causar a sua própria destruição com ao influenciar o clima do seu planeta.
Um novo estudo publicado na Nature Astronomy criou um modelo que sugere que, no passado, Marte foi o lar de micróbios produtores de metano que acabaram por ser os culpados da sua própria extinção, ao causarem mudanças irreparáveis na atmosfera do planeta vermelho.
A pesquisa traça um retrato de um Marte antigo muito diferente do Marte actual. Nos dias de hoje, o planeta é muito frio e mais seco do que todos os desertos na Terra, tendo uma atmosfera muito ténue e fina.
No entanto, os dados recolhidos durante as observações de robôs como o Curiosity mostram sinais da passagem de água pela superfície de Marte, desde lagos, rios, e possivelmente até oceanos. Sendo a água um dos elementos fundamentais para a vida, o planeta terá tido as condições ideais de habitabilidade para micróbios.
Para este estudo, os investigadores criaram um modelo de Marte no passado, incluindo a sua crosta, atmosfera e clima e adicionaram metanogénicos — micróbios que consomem dióxido de carbono e hidrogénio e expelem metano — para entender se conseguiam sobreviver e que mudanças poderiam causar no ecossistema.
Não só conseguiam os micróbios sobreviver, também iriam prosperar em Marte. A simulação indica que a sua posição mais confortável seria dentro das primeiras centenas de metros debaixo da superfície, escreve a New Atlas.
Mas este reinado terá durado pouco tempo, apenas algumas centenas de milhares de anos, para se ser exacto. Os modelos mostram que os micróbios consumiriam tanto hidrogénio e emitiriam tanto metano que a atmosfera de Marte seria completamente diferente e isso desencadearia uma Idade do Gelo e um arrefecimento no planeta.
“A atmosfera de Marte basicamente desapareceu, foi completamente diluída, então a sua fonte de energia teria desaparecido e teriam que encontrar uma fonte alternativa. Além disso, a temperatura teria caído significativamente e os micróbios teriam que ir para muito mais fundo na crosta”, explica Boris Sauterey, autor principal do estudo.
Esta parece ser uma hipótese plausível sobre o que pode ter gerado a mudança que causou o clima seco e frio marciano que vemos hoje e há até cientistas que acreditam que alguns destes micróbios podem até ainda estar vivos nas profundezas do planeta. No entanto, tudo ainda não passa de especulação.
Seja qual for a verdade, talvez seja tempo de aprendermos uma lição com o aparente destino trágico dos nossos vizinhos marcianos.