Casos de meningite em Portugal desceram 81% em quase duas décadas

Sanofi Pasteur / Flickr

Entre 2003 e 2020, o número de casos de meningite em Portugal desceu 81%, tendo a redução de infeções sido “mais acentuada” nos jovens, que são “os principais alvos dos programas de vacinação”.

Estes dados foram avançados no relatório Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença Invasiva Meningocócica, no qual se informa que, entre casos confirmados e casos possíveis/prováveis, se registaram em 2003 uma totalidade de 208 infeções. Em 2020 foram 40.

No período de tempo analisado houve registo de 1665 casos de doença invasiva meningocócica (DIM), apontou o documento recentemente publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) e citado pelo Público.

A “tendência decrescente da incidência” da doença está “em linha com a tendência observada na maioria dos países europeus”. Em Portugal, a incidência global variou entre 1,99 casos por 100 mil habitantes em 2003 e 0,39 casos por 100 mil habitantes em 2020 (um ano atípico por causa da pandemia).

A descida foi mais acentuada foi nas “crianças menores de 12 meses de idade (redução de cerca de 60%) e dos 1-4 anos (redução de cerca de 70%), uma vez que são estas os principais alvos dos programas de vacinação”, indicou o relatório.

No caso da meningite C – que conta nestes 18 anos com 135 casos em todas as idades -, desde 2007 tem registado “apenas casos esporádicos”, afetando “maioritariamente adultos não vacinados”.

“Eeste decréscimo acentuado do número de casos de DIM por MenC resultou da introdução da vacina MenC no Programa Nacional de Vacinação (PNV) português em 2006 e da campanha de vacinação até aos 18 anos de idade (coortes de nascidos a partir de 1989, inclusive) que decorreu entre 2006 e 2008”, lê-se no documento.

Maria João Simões, do Laboratório Nacional de Referência de Neisseria meningitidis do Insa e uma das autoras do relatório, explicou ao jornal que ao alargar-se a campanha de vacinação até aos 18 anos “abrangeu-se uma população muito, muito extensa”, na qual se incluem as faixas etárias onde surgiam muitos dos novos casos e em que a taxa de portadores da bactéria é mais elevada.

As vacinas contra a meningite C são dirigidas à cápsula da bactéria, que nesta estirpe “é muito estável”, tornando a eficácia da vacina “praticamente de 99,9% – há sempre a possibilidade de alguma pessoa não desenvolver anticorpos por razões individuais – e traz a vantagem acrescida de conferir proteção de grupo”.

A meningite B “foi sempre a mais frequente”, com 970 casos confirmados. A incidência é maior em crianças até aos quatro anos, mas existe uma tendência decrescente na incidência desde 2007 que “é mais acentuada em crianças com idade inferior a 12 meses e de 1 a 4 anos”, mostrou o relatório.

À venda desde 2014, em 2020 a vacina contra a meningite B passou a fazer parte do PNV. Embora seja eficaz, neste caso a proteção de grupo não é possível. “As vacinas não são dirigidas à cápsula. Não é possível desenvolver essa metodologia, porque a cápsula tem semelhanças com alguns tecidos humanos”, notou Maria João Simões.

Na meningite W houve 36 casos. Existe vacina própria, mas a imunização contra a meningite B confere proteção. A especialista indicou que uma estirpe hipervirulenta causa mais frequentemente doença mas “não tem de ser necessariamente mais severa” e “nem sequer há uma grande relação com a letalidade”.

Entre 2003 e 2020 registaram-se 118 mortes por meningite, “correspondendo a uma taxa de letalidade de 7,1% (valor médio)”. “É o valor esperado” e está ligeiramente abaixo da média europeia, disse a investigadora. A taxa de letalidade em pessoas com 45 ou mais anos foi de 13,6%, enquanto no grupo dos 15 a 19 anos foi de 3,8%.

ZAP //

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