Os peixes dourados são conhecidos pelos seus tons alaranjados e memórias terríveis de, diz o conhecimento comum, apenas três segundos. Mas, afinal, isso não é verdade.
Apesar da falta de comprovação científica, o facto de a memória dos peixes durar apenas uns segundos é tido como certo pela maioria das pessoas.
Agora, sabe-se que não passa de um mito.
“O que é desconcertante é que é praticamente igual em todo o mundo”, disse Culum Brown, especialista em cognição de peixes na Universidade Macquarie, na Austrália, referindo-se ao facto de toda a gente acreditar neste mito.
“Nalguns lugares, acredita-se que [a memória] é de dois segundos e, noutros, é de dez – mas é sempre curta”, acrescentou.
No entanto, na realidade, os peixes dourados (Carassius auratus) têm memórias muito mais longas, podendo chegar a semanas, meses e até anos.
“Já sabemos que os peixes dourados têm memórias razoavelmente boas desde os anos 50 e 60”, disse Brown, explicando que “apesar do que todos pensam, [os peixes] são realmente muito inteligentes”.
O especialista, que estudou a inteligência dos peixes, incluindo dos peixes dourados, durante mais de 25 anos, acha que o equívoco vem de uma combinação de ignorância sobre a verdadeira inteligência dos peixes e de culpa, porque os donos destes animais costumam mantê-los em aquários bastante pequenos e enfadonhos.
Inteligência dos peixinhos dourados
Na realidade, esta espécie tem uma memória tão impressionante que costuma ser usada como modelo para estudar a memória e a aprendizagem de outros peixes, disse Brown.
“Há milhares de estudos [sobre peixes dourados] que mostram que os peixes têm excelentes memórias“, acrescentou.
A maioria dos estudos feitos com peixes dourados envolve alimentos. Se forem alimentados apenas num lado do aquário, por exemplo, estes peixes irão compreender rapidamente e permanecer desse lado na hora da alimentação, independentemente de serem alimentados ou não, explicou Brown.
E o mesmo acontece com as cores: se empurrarem um remo vermelho e ganharem uma recompensa de comida, mas com o remo azul o mesmo não acontecer, estes peixes também aprendem a escolher o vermelho.
Além disso, os peixinhos dourados são ótimos a solucionar problemas e podem ser ensinados a escapar de redes e percorrer labirintos, lembrando-se de como repetir essas tarefas semanas e até meses depois, disse Brown.
Outras evidências sugerem que os peixes dourados podem reconhecer e lembrar indivíduos, mesmo após longos períodos de separação.
Além dessas descobertas, há uma abundância de evidências de donos de peixes dourados que frequentemente observam comportamentos complexos nos seus animais de estimação durante as interações diárias. Alguns até afirmam que os seus peixinhos dourados os conseguem distinguir de outras pessoas.
Apesar de ser difícil apontar exatamente quanto tempo duram as memórias desta espécie, é seguro dizer que, definitivamente, duram mais de três segundos.
Além disso, e mesmo com imensos estudos realizados até à data, a visão do público sobre a memória destes animais não mudou muito. O principal motivo para que isso aconteça é o facto de os peixes terem “um sério problema de relações públicas”, disse Brown.
“As pessoas não interagem com os peixes da mesma forma que o fazem [com] outros animais”, disse Brown. Isso torna mais fácil que equívocos e mitos sejam amplamente aceites.
“Eu suspeito que tem mais a ver com o facto de nos fazer sentir bem em colocá-los numa tigela minúscula”, disse Brown. “Provavelmente, [acreditar neste mito] diz mais sobre nós do que sobre o peixinho dourado”, atirou.
Os peixes dourados, quando tratados devidamente, podem viver 20 anos. Por isso, os seus donos deverão considerar a possibilidade de comprar um grande aquário, com objetos de enriquecimento e peixes de companhia, bem como tirar algum tempo para brincar com eles e lhes ensinar truques, disse Brown.