Mapa 3D mais antigo de que há registos descoberto numa caverna pré-histórica

Pascal Crapet, Fontainebleau; Médard Thiry / La Brujula Verde

Cientistas descobriram espécie de “maquete” pré-histórica que representa um fluxo de água numa caverna a sul de Paris. Pode ter servido para delinear estratégias de caça ou consciencializar sobre recursos ambientais.

O sítio Ségognole 3, em Noisy-sur-École, França, é único na combinação de arte rupestre figurativa (situa-se num complexo com mais de duas mil gravuras da Idade da Pedra) com intervenções arquitetónicas na pedra, explica o LBV.

No entanto, este lugar, que era habitado há 20 mil anos por povos pré-históricos, é ainda mais especial que isso, ou pelo menos assim acreditam os investigadores de um estudo publicado em dezembro de 2024 na Oxford Journal of Archaeology. Será o lugar onde se encontra o mapa tridimensional mais antigo que conhecemos.

As linhas cravadas na pedra “evocam claramente uma cartografia“, garantem os autores Médard Thiry e Anthony Milne, citados pela Science Alert.

E não é apenas um desenho ilustrativo de caminhos: é mesmo um mapa 3D, com vários relevos, a representar os canais de água existentes na época, e os respetivos vales e colinas por onde esta passava, acreditam os investigadores, que garantem existir uma “instalação funcional e faseada de um sistema fluvial”.

“A exatidão do desenho desta rede hidrográfica revela uma notável capacidade de pensamento abstrato de quem o desenhou e daqueles a quem se destinava”, escreve a equipa no artigo.

“Mais do que uma representação geográfica ou um mapa da paisagem próxima, o chão da galeria gravado em Ségognole 3 parece ser uma representação das relações espaciais das caraterísticas da paisagem e pode ser considerado uma miniatura das caraterísticas naturais e das suas relações na paisagem adjacente”, explicam os autores.

O modelo gravado na gruta pode ter sido utilizado para estruturar estratégias de caça ou mesmo para ensinar novos membros da comunidade sobre os principais recursos ambientais, acreditam também os especialistas.

Os investigadores realçam ainda a capacidade interativa desta espécie de “maquete”: é possível “animar” o modelo e demonstrar como os rios e afluentes poderiam ter funcionado de facto na paisagem real.

Segundo o LBV, as gravuras não eram meramente decorativas, mas sim instrumentos funcionais e educativos, possivelmente repletos de significado cultural e espiritual.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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