Há 50 anos, Mao Tsé-Tung ofereceu 10 milhões de mulheres chinesas aos EUA

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Wikimedia Commons

Henry Kissinger e Mao Tsé Tung (com Zhou Enlai atrás) em Pequim, início dos anos 70

“A China é um país muito pobre, sabe? Não temos muita coisa. Mas o que temos a mais são mulheres. Então, se as quiser podemos dar-lhe algumas. Quer as nossas mulheres chinesas? Podemos dar-lhe 10 milhões.”

Corria o ano de 2008 quando foram divulgados, pelo Departamento de Estado dos EUA, documentos de 1973 que lançavam luz sobre as relações com a China e sobre a posição questionável dos dois países em relação às mulheres.

A 17 de fevereiro o ex-governador da China Mao Tsé Tung recebia em Pequim o então Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger.

Os documentos incluem transcrições das conversas que “rolaram” naquela noite, a partir das 23h30, entre os dois representantes — conversas que abordaram uma grande variedade de questões, incluindo a ameaça soviética e a questão Taiwan.

Foi durante essas mesmas conversas, entre charutos e gargalhadas que furaram a madrugada, que o líder chinês fez uma oferta surpreendente ao norte-americano: enviar 10 milhões de mulheres chinesas para os EUA.

Os documentos evidenciam que o tema “mulheres chinesas” veio à baila com muita frequência nessa noite. Mao queixa-se do estado lamentável do comércio entre os dois países, deixando claro a Kissinger que a China tinha um excesso de mulheres.

“A China é um país muito pobre, sabe? Não temos muita coisa. Mas o que temos a mais são mulheres. Então, se as quiser podemos dar-lhe algumas, umas dezenas de milhares”, lê-se.

E se a proposta pairava inicialmente nas dezenas de milhares, mais tarde aumentaria para 10 milhões, com Mao a insistir: “Quer as nossas mulheres chinesas? Podemos dar-lhe 10 milhões.”

O ditador chinês disse acreditar que tal emigração poderia impulsionar o comércio bilateral, mas também poderia “prejudicar” os EUA com uma explosão populacional semelhante à da China.

As mulheres estavam a ter demasiados filhos, segundo Mao: se fossem enviadas para os EUA, refere, “criariam o desastre” no país.

A resposta do representante dos EUA? “É uma proposta inovadora, teremos de a estudar”, disse, após deixar claro que “o interesse [dos EUA] de trocas com a China não é comercial”. Reforçou ainda que os EUA não tinham quotas ou tarifas para mulheres chinesas.

Enquanto se preparava para estabelecer as bases para restaurar os laços diplomáticos, um ano após a histórica visita de Nixon à China, discutiu a possibilidade de uma invasão soviética da China, dizendo que esperava que Moscovo atacasse a China e fosse derrotada — mas rapidamente mudou o assunto para as mulheres (outra vez).

Mao queixou-se ainda de que muitas mulheres chinesas não sabiam lutar.

Quando um oficial chinês advertiu que os seus comentários suscitariam ira pública se fossem divulgados, Mao pediu mais tarde desculpas a uma intérprete feminina e juntamente com Kissinger concordou em remover os seus comentários sobre as mulheres dos registos.

Mao Tsé Tung morreria em setembro de 1976 e as relações diplomáticas entre os EUA e a China seriam restauradas em 1979.

Tomás Guimarães, ZAP //

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