Milhares de manifestantes pró-independência incendiaram esta segunda-feira o edifício do parlamento local e organizaram outros tumultos nas províncias indonésias de Papua e Papua Ocidental, na sequência da detenção, no fim de semana, de estudantes universitários papuas independentistas.
O vice-governador da província de Papua Ocidental, Mohammad Lakotani, disse que a manifestação de hoje foi um protesto contra alegadas detenções e insultos a dezenas de estudantes papuas nas cidades de Surabaya e Malang, província de Java Oriental, feitas pelas forças de segurança.
Segundo o vice-governador, uma multidão enfurecida ateou fogo a pneus e ramos de árvores em Manikwari, capital da província, e há imagens de televisão que mostram chamas e fumo a sair do edifício do parlamento. Os manifestantes também incendiaram alguns carros, além de bloquearem estradas, segundo mostram as televisões locais e vídeos de ativistas.
Vários milhares de manifestantes também organizaram protestos em Jayapura, a capital da província vizinha de Papua, onde milhares de pessoas percorreram a cidade de mota, pedindo a independência das duas províncias.
“Não somos vermelhos, somos estrela da manhã”, gritavam os estudantes aludindo à bandeira da Indonésia e ao pendão da Papua, respetivamente. Este último é proibido e pode dar direito a 15 anos de prisão a quem o exibir.
As autoridades recomendaram aos residentes não-papuas que permanecessem nas suas casas, não tendo ainda sido relatados confrontos, segundo disse a uma televisão o chefe da Polícia Nacional, Tito Karnavian.
Os protestos foram convocados após a prisão de 43 ativistas universitários, que na sexta-feira e no sábado foram cercados na sua residência na cidade de Surabaya, em Java, por nacionalistas indonésios por terem, alegadamente, profanado a bandeira daquele país asiático.
Segundo a estação do Qatar, os estudantes foram libertados ainda no domingo, mas entretanto a tensão social já era alta e o Comité Nacional da Papua Ocidental (KNPB) já exortara a população a protestar contra o Governo. Há relatos de manifestantes aguerridos terem arrancado a bandeira indonésia do edifício do Governador Provincial da Papua, Lukas Enembe.
Os nacionalistas indonésios gritaram insultos racistas e ameaçaram os independentistas papuas e, no sábado, a polícia acabou por intervir disparando gás lacrimogéneo para os expulsar da residência, tendo-os detido durante algumas horas.
Pelo menos 95 pessoas morreram nas mãos das Forças de Segurança indonésias em Papua e Papua Ocidental entre 2010 e 2018, segundo a Amnistia Internacional, pelo que tanto os jornalistas como os observadores estrangeiros têm restringido o acesso a essas duas províncias.
As duas províncias Papua ocupam a metade ocidental da ilha da Nova Guiné, um território rico em recursos naturais e onde o movimento de independência ganhou força a partir de 1963, quando a Holanda se retirou da Indonésia, até então sua colónia. A outra metade da Nova Guiné integra o estado independente da República de Papua Nova Guiné.
ZAP // Lusa