Mais rico que o rei e com promessas de “estabilidade”. Quem é Rishi Sunak?

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Neil Hall / EPA

Rishi Sunak vai ser o próximo líder conservador e primeiro-ministro britânico.

Rishi Sunak vai assumir o leme do Governo britânico numa altura em que a inflação faz mossa no custo de vida da população. O que podemos esperar do novo primeiro-ministro?

Soa a deja vu, mas o Reino Unido têm oficialmente um novo primeiro-ministro. Meras sete semanas depois de Liz Truss ter entrado em Downing Street (e saído em tempo recorde), é agora a vez de Rishi Sunak assumir as rédeas do Governo britânico.

Sunak foi recebido esta manhã pelo rei Carlos III, que, enquanto chefe de Estado, aceitou minutos antes a demissão da anterior primeira-ministra, Liz Truss, e foi encarregado de formar um novo governo enquanto líder do Partido Conservador, que tem maioria parlamentar.

O novo primeiro-ministro vai agora viajar para a residência oficial, em Downing Street, para fazer um discurso à nação no exterior, o seu primeiro como chefe do Governo. Sunak é agora o primeiro-ministro mais novo da história do Reino Unido e o primeiro com raízes indianas.

Quem é Rishi Sunak?

Sunak, também conhecido pela alcunha “Dishy Rishi” (Dishy significa homem atraente na gíria britânica), tem 42 anos e é formado em filosofia e política na Universidade de Oxford, tendo também um MBA em Stanford. Antes de ingressar no Governo, foi um analista no banco de investimento Goldman Sachs.

Assumiu a pasta das Finanças em 2020, tendo-se rapidamente tornado um dos Ministros mais populares do Governo no início da pandemia, à boleia dos apoios públicos dados às empresas para fazer frente ao confinamento.

Mas o seu estado de graça com os britânicos já viu melhores dias, devido à sua resposta considerada insuficiente à inflação e aos escândalos em torno da fortuna da sua família e do estatuto não-domiciliário que a sua esposa — que é filha do bilionário indiano Narayana Murthy — tem no Reino Unido, que lhe permite não pagar impostos sobre os rendimentos obtidos com negócios no estrangeiro.

A esposa de Sunak tem também negócios na Rússia, o que levou a que Sunak fosse acusado de ser hipócrita por pedir aos empresários britânicos que infligissem “a dor económica máxima” a Putin enquanto a sua família enriquecia graças às operações no território russo.

Demasiado rico?

Tal vez por isto, uma nova sondagem dos investigadores da agência de consultadoria Savanta ComRes concluiu que a palavra que os eleitores mais associam a Sunak não é a “estabilidade” que prometeu no seu discurso de vitória, mas sim “rico“.

O novo primeiro-ministro tem, juntamente com a sua esposa Akshata Murty, uma fortuna a rondar os 840 milhões de euros. Será a primeira vez na história do Reino Unido que o chefe do Governo será mais rico do que o monarca — as estimativas da fortuna do rei Carlos III oscilam entre os 345 e os 400 milhões de euros.

Não é nada de novo para os britânicos ter um primeiro-ministro rico ou vindo de uma família privilegiada — a escola privada de Eton, em particular, é quase vista como a “escola dos primeiros-ministros”, tendo já 20 ex-líderes do Governo lá estudado e pagado uma quota anual de mais de 50 mil euros.

Mas Sunak não é só rico, é super rico, e a sua imensa fortuna e anteriores cargos no sector financeiro têm levantado questões sobre se o novo primeiro-ministro está desfasado dos problemas que a classe trabalhadora enfrenta.

Um exemplo disto foi quando Sunak foi questionado sobre se tinha notado a escalada de inflação na sua vida pessoal, quando ainda tinha a pasta das Finanças. “Acho que provavelmente no pão. Aquele que compramos custa à volta de 1,20 libras e antes custava cerca de 1 libra, de memória. Temos vários tipos de pão em minha casa, um para mim, para a minha mulher e outros para as crianças”, afirmou.

A resposta de Sunak rapidamente foi criticada pela oposição, que o acusaram de não ter noção das dificuldades que os britânicos comuns enfrentam. “Talvez se o Ministro das Finanças tivesse dificuldades em comprar uma única carcaça de pão, como tantas famílias têm, ter-lhes-ia dado mais apoios. Mas este Ministro das Finanças que come o seu ‘pequeno-almoço continental‘ não percebe a crise do custo de vida que tem de gerir”, atirou o deputado Trabalhista Jim McMahon.

O guarda-roupa do novo primeiro-ministro também já foi muitas vezes escrutinado devido à sua preferência por marcas de luxo — tanto que este assunto até foi abordado num dos seus debates com Liz Truss.

Na altura, a deputada Conservadora Nadine Dorris, que apoiou a campanha de Truss, comparou os brincos de 4,5 libras da candidata com o fato de alfaiate e sapatos da Prada de Sunak num tweet.

O moderador trouxe a questão ao debate e Sunak aproveitou para mais uma vez chutar para canto as críticas de que é elitista e está desligado da realidade da maioria dos britânicos, dizendo que políticos devem ser julgados “pelo seu carácter” e não pela sua fortuna ou falta dela.

Sunak lembrou ainda que a sua família é imigrante e que nem sempre teve uma vida privilegiada. “Eles trabalharam dia e noite, pouparam e sacrificaram muito para proporcionar um futuro melhor para seus filhos”, disse lembrando os tempos em que foi empregado de mesa num restaurante indiano. “O trabalho duro é precisamente um dos valores dos Conservadores”, sublinhou.

O que propõe Sunak?

Durante a campanha contra Truss, Sunak repetiu várias vezes que as propostas económicas da adversária seriam um desastre. Agora que foi provado que tinha razão, o que defende Sunak de diferente para o país?

No plano económico, o novo chefe do Governo quer um corte ao IRS de 17 cêntimos por cada libra acumulada nos rendimentos e defende também um corte temporário no IVA da energia, que afirma que garantirá uma poupança média de 154 libras por ano a cada britânico, relata o Big Issue.

No entanto, ambas estas medidas estão a ser criticadas por beneficiarem maioritariamente quem tem rendimentos mais altos e quem consome mais energia em vez de ajudarem principalmente a classe trabalhadora.

Para responder à crise do Serviço Nacional de Saúde e às enormes listas de espera, Sunak quer cobrar multas de 10 libras a quem faltar a consultas com os médicos de família. “Se não estão a ser usadas, são um desperdício. Podemos mudar isso e aproveitar mais os fundos que estão a ser investidos. É um bom exemplo de uma abordagem Conservadora ao problema”, defende.

A Associação Médica Britânica discorda, considerando que a medida “ameaça o princípio fundamental de que o SNS dá cuidados gratuitos a todos”.

Na educação, Sunak quer trazer apostar mais nas “grammar schools” — escolas que acolhem alunos tendo por base a sua performance académica e não a sua proximidade geográfica.

“Acredito na excelência educativa. Acredito que a educação é a forma mais poderosa de transformarmos as vidas das pessoas. Mas também acho que há muitas coisas que podemos mudar no sistema educativo que temos”, promete.

Sobre o Brexit, que sempre apoiou, Sunak concorda com a polémica mudança unilateral no protocolo da Irlanda do Norte assinado com a União Europeia. Relativamente à imigração, o novo primeiro-ministro também defende a continuação do controverso esquema de deportação de imigrantes para o Ruanda, prometendo “fazer o que for preciso” para que o programa resulte.

Na Defesa, Sunak considera que o requisito da NATO (que exige que os estados-membros invistam 2% do PIB na Defesa) é o “chão e não o tecto” e quer que o investimento militar chegue, aos poucos, aos 2,5% do PIB.

No combate às alterações climáticas, Sunak promete cumprir as metas britânicas para zerar as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, quer manter as taxas que foram criadas para o apoio às energias renováveis e compromete-se a deixar o país no caminho para a independência energética até 2045.

Adriana Peixoto, ZAP //

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