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Livro sobre emoções: “No meio do trânsito, deixei de chamar idiota aos outros”

TEDxBratislava / Flickr

Leonard Mlodinow

Físico teórico e autor de livros sobre Ciência centra-se no assunto: emoções influenciam pensamentos e decisões. E afasta-se de Darwin.

Leonard Mlodinow tem 67 anos e a maioria deles tem sido dedicada a perceber “mistérios”. Ou questões que muita gente não consegue explicar.

No seu livro mais recente – entre os 11 que já escreveu – o foco são as emoções, os pensamentos, as decisões. O livro tem o título Emoções: como os sentimentos moldam o nosso pensamento.

O amigo de Stephen Hawking concedeu uma entrevista à revista GQ e afirmou que, nos últimos anos, a comunidade científica tem mudado a sua perspectiva sobre as emoções: “Até aqui acreditávamos que a emoção era prejudicial ao pensamento e às decisões eficazes. Agora sabemos que não podemos tomar decisões, ou mesmo pensar, sem sermos influenciados pelas nossas emoções“.

As ideias defendidas por Charles Darwin, há quase 200 anos, estavam erradas: “Ele dizia, por exemplo, que temos seis emoções básicas: felicidade, tristeza, raiva, medo, repugnância e surpresa. Hoje sabemos que não é bem assim. Expandimos: admiração, constrangimento, ciúme, emoções sociais, a fome pode ser considerada uma emoção”.

“Outra ideia que foi mudando é a de que só existe um tipo disto e daquilo. Agora sabemos que há muitos tipos de medo, por exemplo. O medo que tens de um urso que está à tua frente é o medo que tens de um cancro?”, questionou.

E a comunidade científica tem deixado de isolar as emoções. As emoções estão ligadas e até se sobrepõem.

Emoções comandam

As emoções afectam praticamente tudo: “Os teus pensamentos, as tuas decisões e as tuas acções. A emoção é um estado funcional da mente. É o teu estado de processamento. Se estás no modo de repugnância, como é que serão as tuas decisões nesse dia? E se estiveres no modo de medo? Isso afecta o teu raciocínio”.

“É um erro dizer que a mente racional e a mente emocional são separadas. E muito menos podemos dizer que as emoções estão separadas ​​do pensamento lógico. Acontece tudo junto”, assegurou Leonard Mlodinow.

O antigo professor, que também foi responsável pelo guião de séries famosas como MacGyver e Star Trek, reforçou esta ideia: “As emoções são usadas para determinar as nossas acções. Algumas levam-nos especificamente para uma acção imediata, ou uma acção forte. Estão lá para guiar a nossa acção”.

E deixou exemplos: “A raiva estimula a acção. A felicidade torna-te mais exploratório, mais criativo, mais aberto a ideias. Quando estás feliz, podes fazer algo que normalmente não farias”.

Outras reacções “em directo”

Por causa deste livro, o próprio autor está “muito mais consciente” no seu dia-a-dia: “Posso decidir rever uma decisão mais tarde porque sei que, naquele momento, estou num determinado estado emocional”.

No entanto, agir no imediato, seguindo as emoções, pode não ser mau: “Muitas vezes o primeiro pensamento é o correcto. A mente inconsciente faz muitos cálculos mentais, e mais complexos, do que a mente consciente consegue fazer”.

Para dar novo exemplo sobre como esta análise alterou o seu comportamento, Leonard Mlodinow falou sobre…o trânsito.

A ferramenta utilizada é a reavaliação da situação: “Eu estava parado no centro da cidade. Desvio por causa de obras, sinais muito confusos… Atrasei-me 20 minutos para uma reunião. Ainda fiquei muito chateado, mas depois pensei: «Oh, eu nem queria ir àquela reunião». Por isso, aquilo foi bom”.

“E quando outros condutores se metem à minha frente na estrada – o que está sempre a acontecer em Los Angeles – eu deixei de pensar «que idiota!». Agora penso: “Ah, aquela pessoa está com pressa, ou nem se apercebeu do que fez“, explicou o autor, que acrescentou, sobre outro contexto: quando estamos com fome ou a atravessar uma fase de desgosto, temos tendência para ser mais consumistas. Sobretudo por bens que não são necessários.

Noutro assunto, o especialista considera que os seres humanos que viveram há milhares de anos viviam muito menos tempo mas eram mais felizes. Hoje a vida é muito artificial e, com as redes sociais, cada pessoa tem ligação com muito mais pessoas do que foi construída para ter, num determinado momento.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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