Lagarta “Colecionadora de Ossos” canibal veste-se com os restos das suas presas

Uma espécie de lagarta recentemente descoberta tem, no mínimo, um sentido de moda macabro.

Parece o enredo de um filme de terror: uma lagarta carnívora e canibal escondida nas sombras de uma teia de aranha e vestida com os restos das suas antigas presas.

Foi encontrada na ilha havaiana de O’ahu, e é diferente de tudo o que os cientistas viram antes.

A nova espécie de lagarta não só vive num ambiente estranhamente precário, suspensa entre teias dentro de cavidades de árvores, fendas de rochas e troncos caídos, como é carnívora. E depois de terminar o seu festim, usa os restos dos corpos das suas presas como camuflagem.

Apelidada de ‘Colecionadora de Ossos’ pelos investigadores que a descobriram, este inseto bizarro é uma rara exceção no mundo dos insetos. De cerca de 200.000 espécies conhecidas de traças e borboletas, apenas 0,1% são carnívoras.

A descoberta “extremamente rara”, que foi apresentada num artigo publicado a semana passada na revista Science Direct, demorou 20 anos a concretizar-se e surpreendeu todos os envolvidos.

Não é apenas inesperado, é inimaginável“, diz Dan Rubinoff, investigador da Universidade do Havai , em Honolulu, e autor principal do estudo, citado pela Discover Magazine. “Esta lagarta não estava no radar de ninguém. Chegámos a tantas explicações alternativas para o que estava a acontecer”.

A nova espécie pertence ao género Hyposmocoma, um grupo antigo e diverso encontrado apenas no Havai. São extremamente raras: apenas 62 lagartas Hyposmocoma foram observadas em campo nos últimos 20 anos.

“A carnivoria é excecionalmente rara em lagartas”, diz à BBC Science Focus o  ecologista e entomologista da Universidade de Gloucestershire Adam Hart, que não participou no estudo. “Na verdade, só é conhecida num grupo de espécies no Havai.”

Esta nova espécie sobrevive através da necrofagia: alimenta-se de insetos fracos ou mortos que ficam presos em teias de aranha, mastigando a seda se necessário para alcançar a sua refeição.

À medida que arrasta o seu casulo de seda (a camada externa que a protege antes de se transformar numa traça) pelos fios pegajosos, pedaços de exoesqueleto e membros de insetos acumulam-se, criando um disfarce macabro mas eficaz.

Os investigadores identificaram partes de corpos de mais de seis espécies diferentes de insetos ligadas a estas lagartas. Mas esta não é uma coleção aleatória – é artisticamente organizada.

“As partes do corpo são cuidadosamente medidas antes de a lagarta as tecer na sua coleção”, escreveram os autores do estudo.

As partes são rodadas para encaixar melhor, e peças demasiado grandes são mastigadas até ao tamanho adequado antes de serem cosidas. Resultado: um traje de armadura arrepiante mas deliberado, feito dos cadáveres das suas presas.

“Muitas lagartas têm uma camuflagem incrível, mas esta tende a estar ‘incorporada’ na forma como parecem e se comportam”, diz Hart. “Usar o ambiente como camuflagem desta forma é incomum, mas não inédito em traças. As lagartas da traça Psychidae constroem casulos a partir de material ambiental desta forma, por exemplo.”

Apesar do seu estilo de vida estranho, esta espécie existe há muito tempo – possivelmente há seis milhões de anos, o que é mais do dobro da idade da própria ilha de O’ahu.

ZAP //

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