João Paulo I foi hoje beatificado no Vaticano pela cura milagrosa de uma criança. Conhecido como o “Papa do sorriso”, morreu inesperadamente em 1978, apenas 33 dias após ter sido eleito líder da Igreja Católica.
A missa de beatificação de João Paulo I foi presidida pelo Papa Francisco na Praça de S. Pedro. A sua festa litúrgica será a 26 de agosto, precisamente o dia da sua eleição pontifícia, em 1978.
De origens humildes, nascido no norte da Itália a 17 de outubro de 1912, o futuro beato da Igreja Católica ficou conhecido, sobretudo, pelo seu curto pontificado, mas a sua beatificação permite sublinhar o seu papel, na Igreja e na sociedade, como padre, bispo e cardeal.
Albino Luciani era patriarca de Veneza quando foi eleito Papa, a 26 de agosto de 1978, assumindo o nome de João Paulo I, em homenagem aos seus dois antecessores; recusou a coroação formal, abandonou o nós majestático, nos seus discursos, marcados por um estilo coloquial, e não quis ser carregado na cadeira gestatória.
A simplicidade, a proximidade com os pobres, a defesa da transparência, dentro e fora da Igreja, são pontos de encontro entre a vida de Albino Luciani e a do Papa que o beatificou, Francisco.
“Ao longo da sua vida, ele procurou e apontou constantemente a substância do Evangelho como a única e eterna verdade, para além de qualquer contingência histórica ou de moda. Homem sábio e humilde, dotado de boa cultura, soube falar de Deus com simplicidade evangélica, testemunhando a imagem de uma Igreja que não brilha com a sua própria luz, mas com a luz refletida, que não vem dos homens, mas do Senhor”, escreveu o atual Papa, que criou a Fundação João Paulo I, do Vaticano, para preservar o património deste pontífice.
A cura milagrosa
A cura reconhecida como milagre, que abriu caminho à beatificação, aconteceu na Argentina, em Buenos Aires.
Candela Giarda, de 11 anos, adoeceu subitamente e foi levada ao hospital pela sua mãe. Em poucas horas, a criança piora, entra em coma e é ligada a um ventilador. Os médicos identificam uma gravíssima crise febril de epilepsia refratária, potencialmente fatal, recorda o Observador.
“Nada funcionava”, diria mais tarde à imprensa argentina a mãe da criança. Quatro meses depois, os médicos concluiram que já nada havia a fazer.
Inconformada, a mãe da criança dirigiu-se a uma igreja local e encontrou o padre José Dabusti, a quem contou o que se estava a passar com a sua filha. O padre visitou Canela no hospital e propôs que rezassem pela sua vida, pedindo a intercessão do Papa João Paulo I.
Nessa mesma noite, o estado de saúde de Candela melhorou inesperadamente. Os médicos não conseguiram explicar o porquê. Poucas semanas depois, contra todas as expectativas e prognósticos, Candela recebeu alta.
Durante uma década, o Vaticano conduziu uma investigação para avaliar aquilo que muitos consideram um verdadeiro milagre. No dia 13 de outubro de 2021, o Papa Francisco anunciou que a Igreja Católica reconhecia oficialmente o caso de Candela como um milagre.
Um mal-estar à hora de jantar
A vida de Albino Luciani ficou marcada pela sua ligação ao norte da Itália, onde nasceu, e aos dois Papas que o precederam no pontificado: João XIII nomeou-o bispo de Vittório Véneto, em 1952, incluindo-o entre os padres do Concílio Vaticano II; Paulo VI escolheu-o como Patriarca de Veneza, em 1970, e criou-o cardeal, três anos depois.
“A humildade pode ser considerada o seu testamento espiritual. Graças precisamente a esta virtude sua, foram suficientes 33 dias para que o Papa Luciani entrasse no coração do povo. Nos discursos usava exemplos tirados de acontecimentos de vida concreta, das suas recordações de família e da sabedoria popular”, disse Bento XVI, no 30.º aniversário da sua morte.
As atas da causa de canonização recolhem o testemunho de 188 pessoas, entre as quais o papa emérito Bento XVI, o médico Renato Buzzonetti, que constatou a morte de João Paulo I, e da irmã Margherita Marin.
É ela que testemunha o que aconteceu nas horas anteriores à morte súbita do Papa, depois de um mal-estar à hora de jantar, que Albino Luciani não valorizou.
O relato foi recolhido num podcast da autoria de Andrea Tornielli, diretor editorial dos media do Vaticano, no qual a religiosa diz que, ao entrar no quarto de João Paulo I, na manhã de 29 de setembro de 1978, percebeu “imediatamente” que o pontífice tinha morrido.
“Vimos os óculos, ao lado a luz estava acesa, tinha as folhas… Quando se está a dormir, as folhas caem, mesmo um livro que esteja nas mãos cai. Mas estas estavam pousadas, no peito. Nem sequer mexeu uma mão, por sentir-se mal, o que fosse. Ficou assim, bonito, sorridente, também”, precisou.
As teorias da conspiração: Da máfia à maçonaria
As circunstâncias pouco claras da morte de João Paulo I levaram a que as teorias da conspiração se multiplicassem. A máfia, a maçonaria e até a própria Igreja Católica foram várias vezes associadas à morte do “Papa do sorriso”.
Na altura, o Vaticano afirmou que o Papa João Paulo I morreu de um ataque cardíaco na sua cama, e que a autópsia não foi realizada devido à oposição de alguns familiares.
No entanto, alguns aspetos da versão oficial do Vaticano foram mais tarde contrariados. Ao contrário daquilo que foi sugerido, não foi o bispo irlandês John Magee o primeiro a encontrar o corpo, mas sim uma das freiras que cuidavam dos afazeres domésticos.
Mais tarde, a família revelou que Albino Luciani não faleceu na cama, mas sim no seu escritório. Além disso, a família garantiu que tinha sido feita uma autópsia ao seu corpo.
Boatos apontavam que o seu pontificado entrara em choque com ideias e interesses da Opus Dei. Outras teses argumentavam que os negócios pouco claros entre o Banco Ambrosiano e o Banco do Vaticano foram o motivo do seu assassinato perpetrado pela alta hierarquia da Igreja Católica em cumplicidade com a máfia.
Isto porque o objetivo do Papa italiano seria a denúncia de crimes económicos, que não só teria alertado a máfia italiana, mas também a maçonaria.
Daniel Costa, ZAP // Ecclesia
A morte deste papa, foi quase certo devido a “benção” da Opus Dei, e, ou a membros da parte mais retrograda e sombria da igreja católica. Admiro-me o papa Francisco ter permanecido até agora sem um “ataque cardíaco” semelhante.