Itália. Eleição de Ursula Von der Leyen para a UE ameaça romper Governo

Angelo Carconi / EPA

Luigi Di Maio e Matteo Salvini

Quase todos os dias os dois chefes aliados, Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S), e Matteo Salvini, da Liga, atacam-se diretamente. Dentro de uma aliança de contrários, os dois partidos mobilizam as suas bases com discursos de “oposição” às políticas do seu Governo. A nomeação de Ursula Von der Leyen para presidente da Comissão Europeia pode ser o ponto de rutura.

Mas a rutura não depende apenas da vontade dos sócios mas de cálculos eleitorais. Há um pormenor relevante: para haver eleições antecipadas no fim de setembro, a rutura da coligação deveria ocorrer até segunda-feira, dia 22. O Presidente Sergio Mattarella não quer eleições em outubro, dada a necessidade de aprovar o orçamento e a grave situação económica do país, noticiou o Público na quinta-feira.

Matteo Salvini tem estado sob grande pressão por causa do escândalo Russiagate italiano. Um membro da Liga teve uma reunião em Moscovo para montar um negócio de petróleo cujo lucro, 60 milhões de dólares, se destinaria à campanha na Liga nas eleições europeias. A reunião foi gravada. Há muitas suspeitas mas ainda não há provas da concretização do negócio nem do envolvimento direto de Matteo Salvini.

As intromissões russas preocupam os aliados. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, irá ao Senado esclarecer o assunto. Escreveu numa carta ao La Repubblica: “Esta intervenção será uma oportunidade para reafirmar ao Parlamento a nossa colocação geopolítica e para confirmar a minha mais profunda sensibilidade na tutela da nossa segurança e da soberania nacional”.

O tema com mais potencial de ruptura é, inesperadamente, a eleição de Ursula Von der Leyen. A Itália queria o comissário da Concorrência na nova Comissão Europeia e Matteo Salvini exigia ser ele a designá-lo. Tanto Giuseppe Conte como Luigi Di Maio sublinharam que a Liga, ao votar contra Ursula von der Leyen, isolou a Itália e prejudicou os seus interesses. Matteo Salvini respondeu que a eleição da “candidata de Merkel, Macron e Berlusconi” é que foi “um ato gravíssimo”.

Focke Strangmann / EPA

Ursula Von der Leyen, nova presidente da Comissão Europeia

O único partido que tem a ganhar com eleições antecipadas é a Liga, que lidera as sondagens (35%) e que, aliada aos Irmãos de Itália (extrema-direita), poderia alcançar a maioria absoluta. Ao contrário, o M5S perdeu metade dos eleitores, estagnando nos 17,5%. O Partido Democrático (PD, centro-esquerda) mantém-se nos 23,5%.

Segundo o Público, o que faz hesitar Matteo Salvini é o risco de Sergio Mattarella nomear um “governo institucional” para completar a legislatura. É o seu papel no governo, em que funciona como “comandante”, que lhe dá uma extraordinária exposição mediática, alavanca da sua popularidade.

O fantasma da Liga é que é aritmeticamente possível uma maioria alternativa, do M5S com o PD. Esta aliança é politicamente inverosímil, mas força Matteo Salvini a pensar duas vezes. Ele declara que, desde a eleição de Ursula Von der Leyen, o “PD e o M5S já estão juntos na UE”.

O “ribaltone” – nome que os italianos dão a uma mudança oportunista de maioria – pode não ser “ficção científica”, sublinhou o Linkiesta. O PR poderia tomar a iniciativa de um “governo de transição institucional”, com o apoio do M5S, do PD e outra esquerda. E Silvio Berlusconi.

TP, ZAP //

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