Irão prende estrangeiros para serem usados como moeda de troca

(h) rouhani.ir

O presidente do Irão, Hassan Rohani (Rouhani)

Uma reportagem do Expresso revela que há cidadãos estrangeiros ou com dupla nacionalidade, alguns deles académicos, detidos arbitrariamente no Irão em nome de interesses superiores da República Islâmica, podendo servir, por exemplo, como moeda de troca.

De acordo com o artigo, divulgado esta segunda-feira, o Expresso ouviu o relato do sociólogo francês Roland Marchal, libertado há 85 dias da prisão iraniana de Evin, nos arredores de Teerão. Esteve preso entre 05 de junho de 2019 e 20 de março deste ano, numa ala de alta-segurança controlada pelos Guardas da Revolução.

“Nunca fui espancado ou torturado”, disse. Mas “o isolamento absoluto era aterrorizante, especialmente no início quando eu não compreendia porque estava detido. Eu preciso da luz do dia, de livros, de saber como estão os meus familiares, adoro o meu trabalho. Tudo isso desapareceu no momento da minha prisão”, contou.

Roland Marchal foi ao Irão para visitar a namorada, a antropóloga Fariba Adelkhah – cidadã franco-iraniana, investigadora no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) -, mas ficou retido no aeroporto.

Semanas depois de estar preso, descobriu que Fariba estava detida no mesmo local, ambos acusados de “conluio para ameaçar a segurança interna no Irão” e a antropóloga também de “propaganda”. Roland acabou libertado em março e Fariba foi condenada em maio a seis anos de prisão.

“Durante os interrogatórios, tive a impressão que o objetivo das acusações fantasiosas formuladas contra mim visava, acima de tudo, dificultar as boas relações entre a França de Emmanuel Macron e o Irão de Hassan Rouhani”, recordou o sociólogo.

E acrescentou: “Falaram-me a primeira vez do caso do engenheiro iraniano detido em França em meados de janeiro quando eu fiz greve de fome por não me deixarem falar com a minha família, ver o meu advogado e receber novos livros. Explicaram-me que as minhas condições de detenção eram ditadas pelas condições do engenheiro iraniano. Depois confirmaram mais em detalhe durante um interrogatório”.

No Irão, continuou o Expresso, há vários académicos estrangeiros ou com dupla nacionalidade que podem estar destinados a servir como moeda de troca. Um desses poderá ser o iraniano-americano Morad Tahbaz, co-fundador da Persian Wildlife Heritage Foundation, detido em janeiro de 2018. Em novembro, foi condenado a dez anos de prisão por “contactos com o Governo inimigo dos Estados Unidos”.

A detenção de alguns académicos, acredita Roland, é “uma resposta a prisões que se multiplicaram especialmente nos Estados Unidos desde que Donald Trump chegou ao poder e, acima de tudo, desde o fim da sua participação no acordo sobre o nuclear”.

O cientista iraniano Sirous Asgari, de 59 anos, doutorado numa universidade da Pensilvânia, foi detido nos Estados Unidos (EUA) em 2016, acusado de tentativa de roubo de segredos relativos a um projeto de investigação, e ilibado em finais de 2019. Continuou preso num centro de detenção para imigrantes, sendo libertado apenas em maio.

A 04 de junho, Teerão libertou Michael White, de 48 anos, um veterano da Marinha dos EUA detido no Irão durante 683 dias.

“Desde 1979 que não é óbvio quem são ‘as autoridades iranianas'”. “O Presidente Hassan Rouhani [moderado] e seu Governo estão cientes de que estas prisões reduzem a sua capacidade negocial”, referiu Roland. “Talvez seja isso que os Guardas da Revolução que nos prenderam [e que pertencem à ala dura do regime] quiseram em primeiro lugar”.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.