Irá a Coreia do Sul ficar sem médicos?

Um número indefinido de médicos da Coreia do Sul prometeu demitir-se, a partir de 25 de março, em apoio aos médicos internos – que estão em greve, há quase um mês e por tempo indeterminado, em protesto contra a reforma do setor.

A Coreia do Sul arrisca-se a ficar, em breve, sem médicos.

Depois dos internos terem entrado em greve; os seniores mostram-se solidários com os mais jovens e ameaçam demitir-se.

Naquele país, os médicos não têm o direito à greve, uma vez que são considerados trabalhadores essenciais e, por esse motivo, a lei sul-coreana não admite greves do pessoal médico.

Representantes de professores de medicina de 20 universidades da Coreia do Sul, que também são médicos chefes em hospitais universitários, reuniram-se este sábado. O líder do grupo, Bang Jae-seung, disse que 16 das 20 universidades se declararam “massivamente a favor” do apoio aos jovens médicos.

Os professores de “cada universidade decidiram enviar cartas de demissão, a partir de 25 de março”, disse Bang aos jornalistas.

“Chegámos a um consenso de que, até que a demissão seja finalizada, cada indivíduo terá de fazer o seu melhor para cuidar dos seus pacientes, como tem feito até agora”, sublinhou o dirigente.

Bang não revelou o número exato de profissionais que poderão deixar os cargos a partir de 25 de março.

Sistema médico pode colapsar

A greve por tempo indeterminado foi lançada em 20 de fevereiro, contra a reforma do setor promovida pelo Governo da Coreia do Sul, que inclui o aumento do número anual de licenciados em medicina de 3.000 para 5.000.

A Associação Médica Coreana denunciou que estas medidas implicam uma carga insustentável para as universidades e não resolvem a falta de incentivos para escolher as especialidades mais mal pagas, como a pediatria, ou para preencher vagas em locais remotos.

Bang Jae-seung disse que os médicos não podiam aceitar tal aumento e pediu ao Governo que reconsiderasse o plano.

“Sem isso será impossível iniciar negociações”, disse, acrescentando que “se a situação continuar, os hospitais universitários entrarão em colapso em breve, o que será um duro golpe para o sistema médico”.

A greve perturbou o funcionamento dos hospitais da Coreia do Sul, obrigando a cancelar tratamentos cruciais e cirurgias.

Quase 70% (8.945) dos 13 mil médicos residentes do país entregaram cartas de demissão numa centena de hospitais universitários e a esmagadora maioria permanece ausente, apesar do Governo ter emitido uma ordem de regresso ao trabalho.

Internos em greve vão ser castigados

Uma vez que naquele país os médicos não podem fazer greve, o Governo sul-coreano anunciou, na última segunda-feira, o início dos procedimentos para suspender as licenças de mais de 4.900 jovens médicos, o primeiro passo antes de uma suspensão administrativa de três meses.

Esta medida poderá ainda atrasar em mais de um ano o curso de especialização e quaisquer formações posteriores na carreira, já que os processos dos médicos vão ficar com a medida disciplinar e o motivo registados.

O ministro da Saúde sul-coreano, Cho Kyoo-hong, prometeu ser tolerante com os médicos que abandonem a greve antes de concluídos os procedimentos de suspensão.

A 3 de março, cerca de 30 mil médicos manifestaram-se nas ruas de Seul.

ZAP // Lusa

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