O “lander” InSight da agência espacial norte-americana colocou o seu segundo instrumento na superfície de Marte. Novas imagens confirmam que o HP3 (Heat Flow and Physical Properties Package) foi implantado com sucesso no dia 12 de fevereiro a cerca de 1 metro do sismómetro do InSight, que o módulo recentemente cobriu com um escudo protetor.
O HP3 mede o calor que se move através do subsolo de Marte e pode ajudar os cientistas a descobrir quanta energia é necessária para construir um mundo rochoso.
Equipado com um espigão automartelante, o instrumento vai cavar até 5 metros abaixo da superfície, mais do que qualquer missão anterior no Planeta Vermelho. Em comparação, o “lander” Viking 1 da NASA escavou 22 centímetros. O módulo de aterragem Phoenix, primo do InSight, escavou 18 cm.
“Estamos ansiosos por quebrar alguns recordes em Marte,” disse Tilman Spohn, investigador principal do HP3 do Centro Aeroespacial Alemão, que forneceu a sonda térmica para a missão InSight. “Dentro de alguns dias, vamos finalmente começar a escavar usando uma parte do nosso instrumento que chamamos de toupeira.”
O HP3 parece-se um pouco com um macaco hidráulico, mas com um tubo de metal vertical na frente para segurar a toupeira com 40 centímetros de comprimento. Um cabo liga a estrutura de suporte do HP3 ao “lander” enquanto uma corda presa no topo da toupeira possui sensores de calor para medir a temperatura do subsolo de Marte. Entretanto, os sensores de calor na própria toupeira vão medir a condutividade térmica do solo – quão facilmente o calor se move pela subsuperfície.
“A nossa sonda está construída para medir o calor que vem de dentro de Marte,” disse Sue Smrekar, vice-investigadora principal do InSight, no JPL da NASA em Pasadena, no estado norte-americano da Califórnia. “É por isso que queremos colocá-la no subsolo. As temperaturas mudam à superfície, tanto das estações quanto do ciclo dia-noite, e podem adicionar ‘ruído’ aos nossos dados.”
A toupeira vai parar a cada 50 centímetro para medir a condutividade térmica do solo. Dado que o martelamento cria fricção e liberta calor, a toupeira pode arrefecer durante dois dias. De seguida, é aquecida até mais ou menos 10º C ao longo de 24 horas. Os sensores de temperatura dentro da toupeira medem a rapidez com que isto acontece, o que informa os cientistas da condutividade do solo.
Se a toupeira encontrar uma grande rocha antes de atingir pelo menos 3 metros, a equipa precisará de um ano marciano completo (dois anos terrestres) para filtrar o ruído dos seus dados. Esta é uma razão pela qual a equipa selecionou cuidadosamente um local de aterragem com poucas pedras e porque passou semanas a escolher onde colocar o instrumento.
“Escolhemos o local de pouso ideal, quase sem rochas à superfície,” disse Troy Hudson, cientista e engenheiro que ajudou a projetar o HP3. “Isto dá-nos razão para acreditar que não há muitas rochas grandes no subsolo. Mas temos que esperar e ver o que vamos encontrar à subsuperfície.” Independentemente da profundidade que atinja, não há como debater que a toupeira é um feito da engenharia.
“Pesa menos do que um par de sapatos, usa menos energia do que um ‘router’ Wi-Fi e precisa de escavar pelo menos 3 metros noutro planeta,” explicou Hudson. “Foi preciso muito tempo para obter uma versão que pudesse fazer dezenas de milhares de marteladas sem se partir; algumas versões anteriores falharam antes de chegar a 5 metros, mas a versão que enviámos para Marte provou a sua robustez várias vezes.”
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