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Inflação na OCDE atinge máximo em 30 anos. Lagarde admite “surpresa”

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Stephen Jaffe / International Monetary Fund / Flickr

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde

A inflação homóloga na OCDE aumentou para 6,6% em dezembro, contra 5,9% em novembro, e apenas 1,2% em dezembro de 2020.

De acordo com o Público, atingiu a taxa mais alta desde julho de 1991, segundo foi anunciado esta quinta feira.

Num comunicado divulgado esta quinta feira, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) afirma que este aumento foi impulsionado em parte por um aumento da inflação anual na Turquia, para 36,1% em dezembro, contra 21,3% em novembro.

Excluindo a Turquia, a inflação na OCDE aumentou mais moderadamente, para 5,6%, contra 5,3% em novembro.

Os preços da energia subiram 25,6% na OCDE em dezembro de 2021, menos dois pontos percentuais do que o acréscimo de 27,6% registado em novembro, mas elevados face ao acréscimo de 4,2% verificado em dezembro de 2020.

Os preços dos alimentos na OCDE aumentaram fortemente, até 6,8% em dezembro, contra 5,5% em novembro e 3,2% em dezembro de 2020.

Excluindo alimentos e energia, a inflação homóloga da OCDE também aumentou acentuadamente, para 4,6% em dezembro, contra 3,9% em novembro, e contribuiu significativamente para a inflação global em várias grandes economias.

Em 2021 como um todo, a inflação média anual na OCDE subiu para 4,0%, contra 1,4% em 2020, a taxa média anual mais alta desde 2000.

Os preços da energia aumentaram 15,4%, a taxa mais elevada desde 1981, contra uma diminuição de 6,5% em 2020. Excluindo alimentos e energia, a inflação média anual subiu para 2,9%, contra 1,8% em 2020.

Em dezembro, a inflação homóloga aumentou moderadamente na maioria dos países do G7 em relação a novembro.

Aumentou nos Estados Unidos (para 7,0%, contra 6,8% em novembro), Reino Unido (para 4,8%, contra 4,6%), Itália (para 3,9%, contra 3,7%), Japão (para 0,8%, contra 0,6%), na Alemanha (para 5,3%, contra 5,2%) e Canadá (para 4,8%, contra 4,7%). Em França, a inflação manteve-se em 2,8%.

A inflação, excluindo alimentos e energia, foi o principal fator para a inflação global nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Canadá, tendo contribuído com 4,7 pontos percentuais, 3,5 pontos, 3,0 pontos e 2,6 pontos, respetivamente.

No entanto, a energia teve uma contribuição significativa para a inflação global em todos os países do G7, variando de 1,2 pontos percentuais no Reino Unido a 1,8 pontos percentuais nos Estados Unidos, e foi o principal contributo para a inflação global em França.

Enquanto a inflação dos preços dos alimentos aumentou em todos os países do G7, as suas contribuições para a inflação global permaneceram limitadas, variando entre 0,2 pontos percentuais em França e 0,7 pontos percentuais no Canadá.

Lagarde admite “surpresa” com inflação

BCE mantém para já a mesma estratégia, mas Christine Lagarde mudou esta quinta-feira o seu discurso, mostrando surpresa em relação à inflação de 5,1% em janeiro e não fechando a porta a uma subida de taxas já em 2022.

Menos de duas horas depois de o Banco de Inglaterra ter anunciado uma subida das suas taxas de juro para conter a inflação, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, insistiu numa estratégia de resposta progressiva à recente escalada dos preços.

Mas mostrou maior preocupação em relação à evolução da inflação e recusou-se a pôr de lado a possibilidade de haver uma subida das taxas de juro na zona euro já no decorrer deste ano.

Na reunião do conselho de governadores realizada esta quinta-feira, os responsáveis do BCE optaram, como já era esperado, por manter as medidas que tinham anunciado em dezembro.

No comunicado publicado, quase idêntico ao saído da reunião anterior, é reiterado o plano de começar a reduzir progressivamente o programa de compras de dívida pública a partir do mês de março, deixando a subida de taxas de juro apenas para o momento em que a previsão de inflação para os próximos anos chegar aos 2%.

As expectativas dos mercados, contudo, estavam centradas naquilo que Lagarde poderia vir a dizer na conferência de imprensa a seguir à reunião. E com razão.

Na conferência de imprensa ficou evidente que bastou um mês e meio, e a divulgação de novos dados económicos, para que, dentro do conselho de governadores do BCE, o ambiente em relação à inflação tivesse já mudado substancialmente face ao que acontecia em dezembro.

Esta quinta-feira, a presidente da autoridade monetária europeia não só disse explicitamente que os números da inflação em janeiro, que na zona euro chegou aos 5,1%, foram “muito surpreendentes”, como se recusou, quando questionada pelos jornalistas, a comprometer-se com uma manutenção do atual nível das taxas de juro até ao final de 2022.

Christine Lagarde, que até aqui classificava a possibilidade de uma subida de taxas de juro este ano como “altamente improvável“, disse agora que não fazia “promessas sem condições”.

“As nossas decisões estão dependentes dos dados. Faremos esse trabalho em março e penso que isso nos irá levar a uma análise sobre quais são as causas da inflação no curto prazo e de como é que ficam as projeções de médio prazo”, afirmou.

Lagarde pôs de imediato os investidores nos mercados a admitir a possibilidade de, na reunião do próximo mês, o BCE anunciar uma estratégia de retirada das suas medidas expansionistas bastante mais rápida, para tentar conter a presente escalada da inflação.

Noutros pontos do globo, os bancos centrais têm vindo a optar por essa reação mais agressiva à subida de preços.

A Reserva Federal dos EUA anunciou em janeiro uma primeira subida das taxas de juro e, esta quinta-feira, o Banco de Inglaterra passou a sua taxa de juro diretora de 0,25% para 0,5%, havendo quatro dos 13 membros da instituição que eram mesmo favoráveis a uma subida dos juros mais rápida, para 0,75%.

Até agora, o BCE tem optado por uma estratégia mais progressiva, insistindo que a situação na zona euro é diferente da dos EUA e do Reino Unido e mostrando confiança que a taxa de inflação irá começar, brevemente, a cair, voltando a valores abaixo de 2% tanto em 2023 como em 2024.

No entanto, esta quinta-feira, Lagarde deu mais destaque ao facto de existir “um risco em alta nas previsões para a inflação para o curto prazo” e admitiu que, desde a reunião de dezembro até agora, “a situação, de facto, mudou“.

“[A inflação] pode ser significativamente mais alta do que esperávamos durante o decorrer deste ano e possivelmente mais alta do que tínhamos previsto para o final do ano”, acrescentou ainda.

Em relação às expectativas para a inflação no médio prazo, que são fulcrais para a decisão do BCE começar a subir taxas de juro, Lagarde disse ser importante esperar mais algum tempo.

Mesmo assim, afirmou que o BCE estava agora “mais perto do objetivo [de inflação de 2% no médio prazo]”, assinalando que há fatores a puxar a inflação para cima, como a maior pressão que existe no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego a cair para mínimos das últimas décadas na zona euro, ou o facto de a subida dos preços ser agora sentida numa maioria de bens e serviços, em vez de estar concentrada apenas nos bens energéticos.

Perante esta mudança significativa do discurso da máxima responsável do BCE, não surpreende a resposta imediata dos mercados.

O euro, que estava a registar uma quebra face ao dólar e à libra por causa do ritmo diferente de subidas de taxas dos bancos centrais, começou a valorizar-se.

E as taxas de juro da dívida pública dos países da zona euro, da Alemanha até aos países da chamada “periferia”, voltaram a subir.

No caso de Portugal, de acordo com os dados da agência Reuters, a taxa de juro da dívida a 10 anos aproximou-se ao início da tarde desta quinta-feira dos 0,8%, o valor mais alto desde maio de 2020, nos primeiros meses da pandemia.

Em Espanha, o mesmo indicador estava nos 0,86%, enquanto em Itália ultrapassou os 1,5%. No caso da Alemanha, as taxas também subiram, mas para 0,08%.

ZAP //

1 Comment

  1. Finalmente o PS vai governar com um conjuntura complicada. Ainda não está aí, mas está a chegar. Com 3.5 mil milhões só para encargos anuais com os juros da dívida pública; com a recessão (ou pelo menos forte desaceleração) resultante do aumento das taxas de juro, vamos então ver a magia do Costa!

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