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IBAN no convite de casamento: moda de mau gosto?

“Obrigado por ter respondido ao convite e por nos ajudar a ter o casamento dos nossos sonhos. Clique aqui para efetuar o pagamento.”

Casar já não é o que era. Depois do amor, nasceram novas motivações para ‘dar o nó’.

Há quem veja o laço conjugal como uma ação prática, uma forma de obter benefícios fiscais. Há até quem case apenas para usufruir dos 15 dias de licença de casamento, com 11 dias úteis de faltas justificadas no trabalho. E há quem diga que casar é, para alguns noivos, um investimento com retorno.

A citação a negrito que leu no início deste artigo foi a mensagem que Jack, de 36 anos, leu meses depois de ter confirmado a sua presença no casamento do seu amigo de longa data, Jeff. Quando clicou no link indicado, o seu amigo e a noiva pediam-lhe mais de 2 mil euros para estar presente na cerimónia, segundo uma publicação que o próprio fez nas redes sociais, citada pelo Metro.

Pensou que estava a ser burlado. Ligou ao noivo para confirmar o tão inusitado pedido. Confirmou-se, no entanto, o pior cenário: não era burla nenhuma.

Criara-se então um impasse na mente do britânico: por ele, não ia ao casamento, uma vez que a despropositada quantia pedida é capaz de esvaziar a sua carteira e a de muita gente. Por outro lado, não aceitando o pedido, colocaria em risco a sua amizade de longa data.

A secção de comentários ao desabafo do britânico encheu-se de ódio.

“Teria telefonado e cancelado. Não me interessa quem são os noivos. Se querem um tipo de casamento específico, paguem-no. O que eles fizeram foi de mau gosto“, disse um utilizador; “nunca, mas nunca mesmo, esvaziaria as minhas poupanças para um casal de vigaristas como este”, escreveu outro; “é nojento e errado a tantos níveis…”, comentou outra pessoa indignada.

“Transformar convidados em clientes”

A verdade é que a moda é cada vez mais comum, e os casamentos portugueses não fogem à regra.

Já tive casais que colocaram o IBAN no convite de casamento para que os convidados pudessem realizar a transferência, evitando a entrega de envelopes no dia”, confessa a wedding planner Rute Sousa, em declarações à Delas, que sublinha: “imagino que não” seja uma opção bem recebida pelos convidados.

A “venda” de ingressos para um casamento “introduz uma relação estranha entre si e os seus convidados”, explica ao The New York Times Matthew Shaw, fundador da Sauveur, uma empresa de planeamento de casamentos em Londres: “transforma os convidados em clientes”.

Quem casa e pede quantias avultadas na casa dos três dígitos aos convidados “já não está a ser o anfitrião — está a oferecer uma experiência paga, o que introduz uma narrativa muito diferente em termos do que os convidados esperam”, explica.

“Parece mesmo uma espécie de gafe social” que pode levar a conflitos entre casais e os seus convidados, acredita Jamie Wolfer, fundadora da Wolfer & Co, uma empresa de planeamento de casamentos do Texas.

Até Cristina Ferreira já se pronunciou sobre — e defendeu a pés juntos — esta moda.

“Isto já é prática normal da atualidade”, começou por dizer a diretora de entretenimento da TVI: “antes as pessoas levavam todas os envelopes e depois guardava-se tudo numa cestinha e havia os que não tinham lá nada, outros que não tinham nomes… Agora põe-se o NIB e com o NIB já se sabe de onde veio”, disse a apresentadora, na sequência da polémica com a modelo e ex-concorrente do Big Brother Liliana Aguiar, que terá colocado o NIB nos convites para o seu casamento.

Porquê pedir dinheiro?

“Há casais que vivem juntos há algum tempo e já têm a casa totalmente equipada e decorada ao seu gosto”, reforça Rute Sousa. “Por uma questão de personalização, uma vez que todos gostamos de comprar itens de acordo com o nosso gosto pessoal, é mais vantajoso os casais receberam a prenda em dinheiro“, acrescenta.

Além disso, planear um casamento é cada vez mais caro: alguém tem de pagar o DJ, o fotógrafo, o aluguer do espaço, o catering e outras ‘dolorosas’.

Há até quem o faça não para cobrir custos de casamento, e nem sequer para lucrar com o evento, mas sim para encurtar a lista de convidados.

Afinal quanto devo dar aos noivos?

“O valor será mesmo um tiro para o ar, pode ir desde os 100 aos 10 mil euros”, explica ainda a wedding planner: “As ofertas de casamento dependem de fatores muito diversificados, desde o perfil do casal e dos convidados até à proximidade afetiva”.

“Muitas vezes os convidados tentam saber o valor que os noivos pagam por convidado e tentam igualar para que a oferta cubra pelo menos o gasto. Se os convidados forem amigos ou familiares esse valor tende a aumentar”, reforça.

Se estiver na dúvida e vê o grande dia a aproximar-se, não “panique”: há uma calculadora de presentes de casamento online para ficar a saber exatamente quanto dinheiro deve dar aos noivos.

Tomás Guimarães, ZAP //

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