As vacas, que expressam a sua saúde e bem-estar através da vocalização, podem em breve ser compreendidas graças a uma nova ferramenta acústica de IA. Projeto aponta para o bem-estar animal e uma agricultura mais sustentável.
Um dos sonhos de qualquer agricultor é falar com as suas vacas — e a conversa poderia ser vantajosa para os dois lados.
Um projeto inovador está agora a utilizar a Inteligência Artificial (IA) para interpretar vocalizações de vacas, incluindo os seus mugidos e até os arrotos, todos eles encarados como pistas sobre a sua saúde, bem-estar e sobre o ambiente.
O objetivo é desenvolver uma ferramenta acústica de IA para melhorar o bem-estar destes animais e abordar preocupações ambientais como as emissões de metano na pecuária de precisão.
O projeto propõe um método de monitorização mais contínuo e individualizado do que as técnicas de observação tradicionais usadas atualmente, como a vigilância por vídeo.
“A avaliação do bem-estar animal tornou-se uma discussão central na sociedade e é uma questão controversa simplesmente porque a falta de ferramentas objetivas leva a interpretações tendenciosas,” disse o líder da pesquisa James Chen, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida da Virginia Tech, citado pelo Earth.
Chen e a sua equipa querem colocar pequenos dispositivos de gravação nas coleiras ou arreios das vacas para capturar as suas vocalizações. Ao focarem-se nos dados sonoros obtidos, é possível detetar mudanças subtis na saúde e emoções das vacas.
Recorrendo a técnicas avançadas de aprendizagem automática, a equipa planeia recolher e analisar dados auditivos de vacas, vitelos e gado bovino para posteriormente catalogar milhares de pontos de dados acústicos e interpretar sinais de stress ou doença nas vocalizações das vacas.
É como descodificar os choros de um bebé, segundo a equipa, que vai correlacionar as suas descobertas com amostras de cortisol na saliva para classificar o nível de stress experienciado pelas vacas.
Arrotos e o impacto do rume
Os arrotos das vacas, fonte significativa de emissões de metano, também são parte integrante e fundamental da pesquisa.
A equipa está a analisar dados auditivos e amostras de ADN para identificar vacas que arrotem menos devido a variantes genéticas e examinará o impacto de modificadores de rume — os aditivos alimentares que reduzem a produção de metano.
A técnica poderia eventualmente fornecer uma maneira rentável para os agricultores selecionarem animais com baixas emissões de metano.
O projeto prevê o desenvolvimento de uma segmentação de instruções que integre a gestão de dados acústicos com modelos de aprendizagem automática pré-treinados, que resultará numa visualização interativa dos sons dos animais, acessível através de uma aplicação web futura, de código aberto.
O objetivo final é criar um conjunto de dados público que possa informar sobre políticas e regulamentações, melhorando o bem-estar das vacas e auxiliando na conservação ambiental.
“O nosso objetivo final é usar este modelo em maior escala,” disse Chen. “Esperamos construir um conjunto de dados público que possa ajudar a informar políticas e regulamentações.”
“Qualquer pessoa pode conectar-se diretamente e usar o nosso modelo para realizar a sua própria experiência,” disse. “Isso permite às pessoas transformar as vocalizações das vacas em informações interpretáveis que os humanos podem reconhecer.”
Ao interpretar as vocalizações das vacas, a pesquisa não só visa melhorar o bem-estar animal, mas também oferecer soluções práticas para uma agricultura mais sustentável.
“A vocalização é principal forma das vacas expressarem as suas emoções,” explica Chen. “Já é hora de realmente ouvirmos e entendermos o que elas nos estão a dizer.”