O mundo está ficar perigosamente quente, mas já notou este aumento extremo da temperatura? Não totalmente, respondem os cientistas, num estudo no qual demonstram a tremenda adaptabilidade dos seres humanos do século XXI.
Há um análogo famoso para este fenómeno que, apesar de adequado, é também assustador: o efeito do sapo em ebulição. Um sapo imerso em água que aquece gradualmente não percebe a mudança repentina da temperatura, mesmo que esteja a ser fervido vivo.
Os cientistas não se agarram a este fenómeno de olhos fechados. Em vez disso, tomam-no como uma metáfora para a forma atual de os humanos se estarem a adaptar a um futuro sombrio provocado pelas alterações climáticas irreversíveis. “É um verdadeiro efeito de ebulição”, sintetiza Frances C. Moore, da Universidade da Califórnia.
O estudo, recentemente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), sugere que as pessoas aprendem a aceitar a temperatura extrema como algo “normal” em apenas dois anos. “As pessoas parecem estar a habituar-se às mudanças que, ao mesmo tempo, querem evitar.”
Moore e sua equipa analisaram mais de dois milhões de tweets, entre março de 2014 e novembro de 2016, para analisar de que forma as pessoas reagiam a eventos climáticos, comparando os tweets com dados meteorológicos. No fundo, os cientistas queriam perceber de que forma as pessoas reagiam a mudanças significativas nas condições meteorológicas localizadas.
Os cientistas descobriram que as pessoas tinham tendência a tweetar sobre o clima se este fosse incomum para a estação do ano em que viviam: condições meteorológicas quentes no inverno ou temperaturas frias no verão.
No entanto, esta tendência depende também da experiência passada, sobretudo das memórias que as pessoas têm sobre o clima. Isto é, num mundo cada vez mais quente, as pessoas percebem cada vez menos o clima extremo – ou seja, parecem-se cada vez mais com o sapo em ebulição, que não percebe que está a ser fervido.
“As temperaturas que inicialmente eram consideradas notáveis, tornam-se rapidamente comuns com a exposição repetida ao longo de uma escala de tempo de aproximadamente cinco anos“, escrevem os autores no artigo científico.
“Como o ajuste da expectativa é rápido em relação ao ritmo das mudanças climáticas antropogénicas, essa mudança na linha de base subjetiva tem grandes implicações para a notabilidade das anomalias de temperatura à medida que a mudança climática avança”, adiantaram ainda.
Contudo, apesar de a mudança climática ser algo chocante e extremo, a nossa interpretação é algo subjetiva, uma vez que a nossa capacidade de avaliar o tempo “normal” parece estar baseada num ponto de referência imaginário do tempo entre dois a oito aos, avança o ScienceAlert.
Isto significa que demora cerca de dois a oito anos para que as pessoas ajustem os seus padrões de normalidade – parando assim de reconhecer que aquelas temperaturas que um dia consideraram extremas eram, de facto, extremas (e estão a “vivê-las” agora).
“A definição de ‘temperatura normal’ muda rapidamente com o tempo nesta época de mudança climática”, escreveram os autores.
Os investigadores alertam que esta incapacidade de entender o clima “normal” pode dificultar que tanto cientistas como governos criem políticas para resolver questões inertes às alterações climáticas.
O facto de as pessoas estarem a acostumar-se a um clima desagradável e incomum (mesmo que não tenham consciência disso) pode trazer problemas sérios num futuro cada vez mais próximo.