ZAP // Hsu Shu-yu / Natural history Museum; Gaiser. F., Steinbauer M.J. et al / Frontiers in Biogeography

Elefante de presas retas (Palaeoloxodon antiquus), conceito artístico. Ao fundo, mapa de distribuição da espécie na Europa
Se o elefante de presas retas Palaeoloxodon antiquus que viveu na Europa não tivesse sido eliminado pela caça humana durante a última Idade do Gelo, cerca de 50.000 e 34.000 anos atrás, teria atualmente condições climáticas para sobreviver no nosso continente, concluiu um novo estudo.
A Europa não é conhecida pelos seus elefantes. Pelo menos, as três espécies de elefantes que atualmente percorrem a Terra — os elefantes africanos Loxodonta africana e Loxodonta cyclotis e o elefante asiático Elephas maximus — não são famosos por vaguearem pela Europa.
Mas não há muito tempo, o elefante de presas retas Palaeoloxodon antiquus vivia por todo o continente, tendo deixado um rasto duradouro no terreno europeu.
Um novo estudo, publicado a semana passada na revista Frontiers in Biogeography, examinou novamente estes herbívoros entretanto extintos, que foram eliminados pela caça humana durante a última Idade do Gelo, entre cerca de 50.000 e 34.000 anos atrás.
O estudo, que recriou a área de distribuição e reconstruiu os habitats destes paquidermes, conclui que as atuais condições climáticas da Europa ainda poderiam ser adequadas para o elefante de presas retas — isto é, se estes elefantes existissem hoje.
Os elefantes P. antiquus viveram na Europa durante cerca de 700.000 anos, sobrevivendo a várias idades do gelo antes do seu desaparecimento.
“As evidências fósseis mostram que o P. antiquus habitava ambientes abertos ou semiabertos com vegetação em mosaico”, diz Manuel Steinbauer, cologista da Universidade de Bayreuth na Alemanha e autor principal do estudo.
“Isso é um dos aspetos que os torna semelhantes aos elefantes modernos”, acrescenta o investigador, em comunicado citado pela Discover.
Outra semelhança é o respetivo impacto ambiental. Os elefantes modernos são “engenheiros de ecossistemas” especializados, e tendem a moldar o seu ambiente, aparando a vegetação através do pastoreio e nivelando a geografia por pisoteamento.
Durante o seu tempo na Europa, os elefantes de presas retas também alteraram os seus habitats, mantendo as florestas pouco densas e os terrenos abertos que, de outra forma, teriam sido preenchidos.
“No passado, a megafauna como o elefante de presas retas e os seus respetivos mecanismos reguladores, como o pastoreio, estavam omnipresentes”, diz Franka Gaiser, também ecologista da Universidade de Bayreuth e primeira autora do estudo.
“Muitas espécies europeias, particularmente plantas que prosperam em habitats abertos, provavelmente estabeleceram-se na sua diversidade na Europa porque beneficiaram destas influências ecológicas“, acrescenta a investigadora.
As paisagens que o P. antiquus mantinha ainda poderiam ser adequadas para muitas das plantas nativas da Europa, mas poderia esta espécie prosperar na Europa atualmente, se não tivesse sido caçado até à extinção?
Um clima atual para paisagistas elefantes?
Na esperança de o descobrir, os autores do estudo analisaram artigos anteriormente publicados sobre fósseis de P. antiquus.
Atribuindo fósseis específicos a períodos específicos de clima quente e frio, e consultando modelos climáticos desses períodos específicos, a equipa conseguiu reconstruir as áreas de distribuição e habitats do P. antiquus ao longo da história.
Comparando estes habitats históricos com os habitats da Europa nos últimos 50.000 a 34.000 anos, a equipa revelou que os elefantes de presas retas poderiam ter sobrevivido até ao presente, considerando apenas o clima, se a caça humana não os tivesse exterminado.
Segundo a equipa, os resultados revelam as limitações das estratégias tradicionais de conservação na Europa, uma vez que estas estratégias tipicamente tentam manter os ecossistemas europeus como estão, não como eram.
“As estratégias tradicionais de conservação na Europa visam principalmente proteger a biodiversidade, protegendo os habitats das atividades humanas“, diz Gaiser .
“No entanto, é improvável que esta estratégia por si só restaure as funções ecológicas perdidas da megafauna, incluindo a modelação sustentável da paisagem pelo elefante de presas retas”, acrescenta o ecologista.
É possível que a reintrodução de herbívoros existentes, como cavalos e gado, na Europa possa compensar até certo ponto a perda de herbívoros extintos, como os elefantes de presas retas.
Mas não está claro se a megafauna existente poderia substituir completamente a megafauna extinta, pelo menos no que diz respeito às suas capacidades de modelação da paisagem.
Embora só o tempo possa dizer, é possível que não exista outra espécie capaz de moldar o terreno europeu exatamente como um elefante de presas retas, concluem os autores do estudo.