Uma versão geneticamente modificada do vírus do herpes demonstrou eficácia no tratamento de cancros avançados, segundo um relatório recente do Institute of Cancer Research, no Reino Unido.
Embora o tratamento ainda esteja em fase inicial de ensaios, os investigadores descobriram que a RP2, uma versão modificada do vírus do herpes simples, conseguiu matar células cancerígenas num quarto dos doentes, reportou esta segunda-feira o Interesting Engineering.
“O nosso estudo mostra que um vírus geneticamente modificado (…) pode ter um duplo efeito contra os tumores: destruir diretamente as células cancerígenas a partir do interior e, ao mesmo tempo, ativar o sistema imunitário”, disse Kevin Harrington, do The Institute of Cancer Research, um dos autores da investigação.
De acordo com o especialista, é raro verificar tais respostas em ensaios clínicos que estejam numa fase inicial, visto que nesta etapa o objetivo principal é testar a segurança de determinado tratamento ou fármaco.
“Os nossos resultados iniciais sugerem que uma forma geneticamente modificada do vírus do herpes pode tornar-se numa nova opção de tratamento para alguns pacientes com cancros avançados – incluindo aqueles que não responderam a outras formas de imunoterapia”, explicou Harrington.
O vírus RP2 modificado é injetado diretamente nos tumores e atua de duas formas: primeiro, multiplica-se no interior das células cancerígenas, eliminando-as por dentro. Além disso, bloqueia uma proteína conhecida como CTLA-4, ativando o sistema imunitário e aumentando a sua capacidade de matar as células cancerígenas.
O vírus foi também modificado para produzir as moléculas GM-CSF e GALV-GP-R, que fornecem capacidades adicionais para desencadear o sistema imunitário.
Os tumores diminuíram de tamanho em três dos nove pacientes tratados com o RP2. Num dos casos, o cancro desapareceu completamente.
“Recebi injeções de duas em duas semanas durante cinco semanas, que erradicaram completamente o meu cancro. Há dois anos que estou livre da doença, é um verdadeiro milagre, não há outra palavra para o descrever”, indicou o paciente.
Os investigadores expandiram então a sua amostra a 30 pacientes, que receberam tanto o tratamento com o RP2 modificado como a terapia com Nivolumab – que também estimula o sistema imunológico. Sete tiveram resultados positivos, indicou o Interesting Engineering.
O estudo revelou que a maioria dos efeitos secundários associados ao tratamento com RP2 eram ligeiros, tais como febre, calafrios e fadiga.
Agora, os investigadores planeiam continuar os seus estudos com amostras maiores.
“Os vírus são um dos inimigos mais antigos da humanidade, como todos vimos na pandemia. A nossa nova investigação sugere que podemos explorar algumas das suas características (…) para infetar e matar as células cancerígenas”, disse o Professor Kristian Helin, diretor executivo do Institute of Cancer Research.
“É um estudo pequeno, mas as descobertas iniciais são promissoras”, frisou.