A ideia surgiu quando uma estudante norte-americana se mudou para a Escócia e teve dificuldades em fazer amigos. O projeto está a ser um grande sucesso.
No ano passado, Juliette Sartori decidiu que queria expandir o seu círculo social, e foi, então, a um encontro para um café com três pessoas que não conhecia.
“Foi muito bom”, disse. “Acabamos por conversar durante duas horas e eu falo com eles até hoje. Todos nós mantemos contacto.”
O seu encontro às cegas de amizade foi parte do Dinner With a Stranger (Jantar com um Estranho, em tradução livre), a sociedade que Juliette e as suas colegas de apartamento começaram “por um capricho” para colegas da Universidade de Glasgow que querem conhecer novas pessoas.
Juliette, de 21 anos, tinha-se mudado dos EUA para a Escócia para estudar negócios e administração e disse ser mais difícil conectar-se instantaneamente com os outros, pois descobriu que as pessoas praticamente estavam fechadas dentro de um muro que tinham erguido em volta delas.
Sempre bem conectados a um mundo digital, esses estudantes passam pouco tempo a interagir uns com os outros pessoalmente, e, por isso, Juliette não teve muitas oportunidades de aumentar o seu círculo de amigos.
E assim nasceu o Dinner With a Stranger.
“Achamos que originalmente apenas 30 pessoas participariam“, diz Juliette. “Nós simplesmente não sabíamos o que esperar.” “É uma ideia fora do comum e o nome confunde as pessoas desde o começo.”
Mas 200 pessoas — uma mistura de estudantes de graduação e pós-graduação, homens, mulheres e não binários — inscreveram-se no primeiro mês e a sociedade continuou a crescer desde então.
A “sociedade da amizade” de Juliette é muito diferente da cultura de deslizar o dedo para a direita no ecrã de telemóvel usando as aplicações de namoro que dominam a vida de muitos jovens.
O objetivo é a amizade, e não encontros românticos. O esquema evita algoritmos de computador complicados e depende, em vez disso, de questionários de personalidade mais tradicionais partilhados com os membros no início de cada mês.
Primeiramente, os possíveis amigos respondem a perguntas sobre determinados temas, que variam desde género musical ou filme da Disney preferido, passando por destino de férias dos sonhos.
Em seguida, Juliette e outros cinco integrantes passam horas a formar os pares ou grupos e a partilhar detalhes de contacto. Depois, elas saem de cena para deixar a mágica acontecer.
“As pessoas estão mais solitárias agora”
Colega de Juliette no papel de cupido platónico, Mary Yiorkadji, estudante nascida no Chipre, rapidamente percebeu que não estava sozinha na luta para encontrar amigos na universidade.
“Há muitas pessoas de diferentes origens e pode ser realmente intimidador achar que é diferente e as pessoas não vão te entender”, diz.
A jovem de 22 anos acredita que as redes sociais tiveram um impacto negativo nas amizades.
Isso acontece porque mais e mais pessoas hoje em dia comparam as suas vidas com as de outras pessoas online.
“É muito fácil deixar-se levar por ideias falsas das redes sociais, o que pode causar solidão e expectativas que nunca são atendidas”, diz Mary. “As pessoas estão mais solitárias agora. A nossa geração está mais solitária.”
Mas Mary diz que o Dinner With a Stranger a apresentou à beleza do encontro às cegas.
“Acho que uma das partes mais importantes da universidade é conhecer novas pessoas”, diz a estudante do quarto ano de economia e filosofia.
“Dessa forma, não se dá ênfase às diferenças entre as pessoas, mas às coisas que importam numa amizade, que são as semelhanças.”
Ela descreve isso como uma maneira “única” de conhecer e se conectar com outras pessoas do mundo todo.
Da “lotaria da amizade” aos colegas de apartamento
Vanya e Hannah, que foram colocadas juntas pelo Dinner with a Stranger em dezembro do ano passado, acreditam que não se teriam conhecido se não fosse pelo grupo.
“A sociedade dá tanta ênfase ao romance que esquecemos o quanto as amizades são importantes”, diz Hannah, 20.
Antes de conhecer Vanya era “triste” e passava muito tempo sozinha, mas agora a sua saúde mental melhorou e ela está mais confiante. As duas agora são melhores amigas e colegas de apartamento.
Vanya, 19, diz que gostou de conhecer Hannah sem “ideias e expectativas preconcebidas”.
“As pessoas estão a falar com tanta gente online, que não estão a falar com ninguém de verdade“, diz a estudante de economia, originária da Índia. “Dessa forma, está a entrar com a mente completamente aberta e conhecendo alguém conforme a conversa avança”, diz.
“Tem que mostrar que está a fazer um esforço genuíno.”
O futuro da “experiência divertida”
Para Juliette, ir a encontros de amizade com estranhos a ajudou a encontrar o seu “grupo”. Juliette estranha que muitas pessoas acham que não é normal ir a encontros de amizade para conhecer novas pessoas.
E diz ter certeza de que em breve haverá mais oportunidades de participar nesta “experiência divertida”.
“É mais uma forma moderna de fazer amigos. É pegar a ideia de conhecer alguém online num site de namoro e transformá-la em amizades ao ver o quão bem se dá bem com essa pessoa.”
Aplicações de namoro, como o Bumble, já começaram a criar versões semelhantes para fazer amizades, o que Juliette acha que se tornará mais popular à medida que a ideia se expande.
“Agora que as pessoas estão a trabalhar em casa e fazer faculdade remotamente, é mais comum que as pessoas fiquem em casa o tempo todo e é menos provável que saiam e conheçam novas pessoas como faria há cinco anos. É moderno, mas acho que se tornará mais popular no futuro.”
ZAP // BBC