Uma técnica de modificação das nuvens para arrefecer o oeste dos EUA poderá acabar por provocar ondas de calor em direção à Europa. A Península Ibérica é a única região que não deverá ser afetada.
Atenuar os graves impactos do aquecimento global é cada vez mais urgente e a geoengenharia pode ser uma grande ajuda.
Um estudo publicado na Nature Climate Change, esta sexta-feira, sugere que a técnica de modificação das nuvens, conhecida como Marine Cloud Brightening (MCB), pode inicialmente ajudar a arrefecer o oeste dos EUA, mas, a longo prazo, poderá provocar ondas de calor globais, particularmente Na Europa.
A geoengenharia, na qual se inclui o MCB, está a ser explorada como uma solução para mitigar os impactos do aquecimento global.
Como explica a New Scientist, no caso do MCB, a técnica visa refletir mais luz solar para longe da superfície da Terra, semeando a baixa atmosfera com partículas de sal marinho para formar nuvens stratocumulus marinhas mais brilhantes.
Técnica eficaz?
À margem do novo estudo, a equipa de investigação modelou o impacto de um programa de MCB destinado a arrefecer o oeste dos EUA nas condições climáticas atuais e nas projeções para 2050.
A modelação foi feita em dois locais no norte do Oceano Pacífico, aplicando o MCB durante nove meses por ano ao longo de 30 anos.
Os resultados mostraram que, nas condições climáticas atuais, o MCB poderia reduzir em 55% o risco de exposição perigosa ao calor no oeste dos EUA.
No entanto…
Quando os cientistas perspetivaram o impacto do MCB em 2050, num cenário de aquecimento global de 2°C acima dos níveis pré-industriais, os resultados foram alarmantes.
O MCB não só falhou em arrefecer, mas também provocou um aumento significativo das temperaturas em quase toda a Europa.
Com uma exceção: a Península Ibérica.
De resto, as temperaturas aumentariam, particularmente na Escandinávia, na Europa Central e na Europa de Leste, devido a alterações nas correntes atmosféricas de grande escala, que tiveram consequências inesperadas.
A autora correspondente do estudo, Katharine Ricke, revelou à New Scientist preocupações quanto à eficácia destes projetos que, considerou, podem desencorajar as ações para reduzir as emissões de carbono.
Em declarações à mesma revista, Daniel Harrison – que lidera projeto que analisa se o MCB pode ser utilizado no futuro como uma ferramenta para atenuar as ondas de calor na região da Grande Barreira de Coral – diz que as previsões do autores do novo artigo são “completamente irrealistas e extremos”.
Afastando os alarmismos, Daniel Harrison argumenta que o seu projeto envolveria MCB durante períodos de tempo muito mais curtos e numa fração da área restringida pela equipa.