Em 2019, uma equipa de investigadores encontrou o fóssil que estava perdido nas coleções do Museu de História Natural da Hungria, enquanto procurava fósseis de ancestrais de chocos.
O fóssil foi descoberto originalmente em 1942 pelo paleontólogo húngaro Miklós Kretzoi, que o identificou como uma lula com cerca de 30 milhões de anos e o chamou de Necroteuthis hungarica. Mais tarde, outros especialistas defenderam que era um ancestral do choco.
No entanto, em 1956, durante a Revolução Húngara, o fóssil foi considerado destruído num incêndio que atingiu o museu e, por isso, a redescoberta foi uma agradável surpresa para a equipa. “Foi um grande momento”, disse Martin Košťák da Universidade de Praga.
Košťák e a sua equipa estudaram o fóssil com microscopia eletrónica e realizaram uma análise geoquímica. Desta forma descobriram que a identificação inicial de Kretzoi estava certa: o fóssil é de uma lula, não de um ancestral de choco.
Perceberam ainda que a concha interna do animal, que forma a espinha dorsal do seu corpo, tinha cerca de 15 centímetros de comprimento, sugerindo que a lula chegava a 35 centímetros de comprimento com os braços incluídos, sendo que era um pouco maior do que a lula vampiro moderna, que apenas atinge cerca de 28 cm de comprimento total do corpo.
Os sedimentos ao redor do fóssil não mostram traços de micro fósseis frequentemente encontrados no fundo do mar, o que sugere que a lula não vivia em águas rasas. Os investigadores também analisaram os níveis de variação do carbono no sedimento e descobriram que esta provavelmente veio de um ambiente com baixo teor de oxigénio.
Essas condições são características do fundo do oceano. Através da observação das camadas de rocha de onde o fóssil foi depositado, os especialistas também mostraram que a lula provavelmente não poderia ter sobrevivido em locais de maré rasa.
Os depósitos de águas rasas mostraram níveis muito altos de um plâncton específico que floresce em ambientes com baixo teor de sal e alto teor de nutrientes – condições que a lula vampiro dos dias modernos não consegue tolerar, avança o Live Science.
Também os investigadores do Monterey Bay Research Institute descobriram que estas lulas não se comportam como predadores, pois esperam, dentro dos seus habitats escuros, que as migalhas de matéria orgânica caiam para se alimentar.
A nova pesquisa, publicada na revista Communications Biology a 18 de fevereiro, sugere que os ancestrais da lula vampiro aprenderam a viver onde outras lulas não conseguiriam.
Os fósseis mais antigos deste grupo de lulas foram encontrados no período Jurássico, há mais 200 milhões de anos, e são normalmente encontrados em sedimentos anóxicos, revela Košťák.