Fica apenas a 3 quilómetros de Vilnius, na Lituânia, e é espaço de festivais de música, pintura ou cinema. Tem artistas residentes, mas os residentes já foram outros: presos políticos da União Soviética. Entre outras histórias…
Lukiškės fica em Vilnius, na Lituânia, e a National Geographic descreve-a como “uma recordação do terrível passado do país“. Refere-se ao período da União Soviética, à qual a Lituânia pertencia.
Os presos políticos existiam no país desde o tempo dos czares, e esta prisão de tijolo foi criada na altura do Império Russo, em 1837. No seu lugar, antes disso, existia já um mosteiro católico romano.
Mais tarde, devido à sobrelotação e à deterioração das condições — e uma vez que os presos políticos continuavam a chatear o regime comunista — a prisão foi transformada numa penitenciária moderna de alta segurança e reaberta em 1904.
Nessa altura, a tortura, a violação e o assassínio eram comuns nesta prisão que albergava tanto homens como mulheres, conta a National Geographic. Os gritos de sofrimento dos prisioneiros eram ouvidos não só pelos outros prisioneiros (funcionavam como um aviso), mas também pelos próprios cidadãos lituanos que passavam nas proximidades.
Hoje, essa história ainda pode ser recordada, através de visitas guiadas ao interior da cadeia, que fica apenas a 3 quilómetros do centro de Vilnius. Os guias (alguns deles antigos guardas prisionais) conduzem os visitantes através de corredores escuros e filas de celas com janelas com grades — espaços confinados, com largura para um único beliche e uma pequena secretária.
È ainda possível explorar as “salas de suicídios”, que os prisioneiros usavam para fazer isso mesmo, ou os locais de isolamento, que era utilizado como forma de punição. No ar, sente-se a atmosfera opressiva que envolve os visitantes.
No local, inclusivamente, chegaram até a ser filmados episódios da série de grande êxito da Netflix, “Stranger Things“, para recriar uma prisão sombria.
No entanto, desde 2021 tudo mudou. O monumento histórico foi quase inteiramente ocupado por mais de 550 artistas residentes, e as celas passaram a galerias e ateliers de pintura, dança, cinema, música e outras artes.
“Quando vim pela primeira vez ao meu atual espaço de estúdio, a cantina da prisão, vi uma possibilidade. Agora, não tem outro significado senão o meu estúdio — já foi convertido num lugar luminoso e inspirador”, disse a artista lituana Jolita Vaitkutė.
“Como artista que transforma objetos do quotidiano e lhes dá um novo significado; Lukiškės Prison 2.0 é um lugar perfeito para eu criar. Estou contente por fazer parte da conversão, que dará a este edifício novas funções e mudará a sua história“, acrescentou.
“Os lituanos estão satisfeitos com a transformação. Não só é diferente de tudo o que os turistas podem experimentar, como o nosso património cultural foi imortalizado e reimaginado de uma forma espetacular”, garante Milisenta Miseviciute, guia turística de Vilnius.
O espaço com quase 200 mil metros quadrados recebe mesmo festivais, e quem quiser pode comprar um bilhete de visita noturna por 20 euros e acabar a noite a beber uma cerveja e a petiscar nos restaurantes ambulantes estacionados do lado de fora.E só com azar é que não apanha algum evento.