Exilados sírios obrigados a pagar taxas para evitar o alistamento obrigatório

No início deste ano, Yousef, um sírio de 32 anos que vive na Suécia, teve que pagar as taxas que lhe isentavam da obrigatoriedade de se alistar no exército da Síria, caso contrário a família poderia perder a casa naquele país.

O serviço militar é obrigatório para os sírios com idades entre os 18 e os 42 anos. Em fevereiro, um oficial do exército anunciou no Facebook que um novo regulamento permitiria às autoridades confiscar a propriedade dos “evasores” e das suas famílias, noticiou esta sexta-feira o Guardian.

Em junho, Yousef foi para a embaixada síria em Estocolmo com cerca de 6.834 euros, preparado para pagar a taxa que retiraria o seu nome das listas de recrutamento. “Este dinheiro será usado pelo regime sírio para comprar armas e matar mais pessoas”, referiu ao Projeto de Relato de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP).

De acordo com dados do Banco Mundial, cerca de um quinto da população síria – atualmente com 17 milhões de pessoas – são homens em idade militar. Estudos revelaram que o recrutamento é uma das principais razões para os refugiados temerem o retorno. O governo sírio recebeu pagamentos de cerca de 1 milhão de sírios estabelecidos na Europa.

As embaixadas sírias começaram recentemente a receber pagamentos em dinheiro. Dois investigadores, um funcionário do aeroporto e um ex-diplomata entrevistado pelo OCCRP e pela Unidade de Relatórios Investigativos da Síria (Siraj), disseram suspeitar que o dinheiro voltou para a Síria via correio diplomático.

Essa ação violaria a convenção de Viena de 1961 sobre relações diplomáticas, na qual está firmado que “os pacotes que constituem a mala diplomática […] podem conter apenas documentos diplomáticos ou artigos destinados ao uso oficial”, apontou o Guardian.

As sanções norte-americanas implementadas em 2020 pioraram a situação financeira da Síria, com a libra síria a valer agora apenas 1% do valor pré-crise em relação ao dólar. O passaporte sírio é um dos mais caros do mundo no estrangeiro.

A projeção do orçamento da Síria para 2021 prevê que as receitas das taxas de isenção militar cheguem a 240 mil milhões de libras sírias (aproximadamente 164 milhões euros). A estimativa representa 3,2% da receita do orçamento deste ano, ante 1,75% em 2020, disse ao OCCRP o economista sírio Karam Shaar.

A Suécia acolhe cerca de 114.000 refugiados sírios. Entre junho e agosto, jornalistas do OCCRP fizeram três visitas à embaixada síria em Estocolmo, encontrando no local uma média de 10 candidatos por dia à espera para pagar as taxas de isenção do serviço militar.

Um funcionário da embaixada disse a um repórter disfarçado do OCCRP que não poderia dizer exatamente quantos sírios solicitaram a isenção de serviço, mas que houve um “aumento significativo” no primeiro semestre de 2021, que o próprio atribuiu ao anúncio feito em fevereiro pelo oficial do exército.

Taísa Pagno //

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