O exercício físico matinal reduz mais os níveis de glicose no sangue, quando comparado com o noturno. Em contrapartida, o exercício no final da noite permite que os praticantes se beneficiem da energia armazenada durante o dia, aumentando a sua resistência.
Esta é a conclusão de um estudo publicado em janeiro deste ano na Cell, no qual um grupo de investigadores analisou os efeitos do exercício físico praticado em diferentes horários, cruzando esses dados com o relógio biológico, ou ritmo circadiano.
Para desenvolver a investigação, a equipa coletou amostras de sangue e tecidos de cérebros, corações, músculos, fígados e gordura de ratos que se exercitaram antes do pequeno-almoço e depois do jantar.
Recorrendo a um espetrómetro de massa, detetaram as moléculas produzidas por cada órgão. Essas “fotografias tiradas em tempo real” permitiram verificar a resposta dos ratos ao exercício, em horários específicos do dia. Através dessa informação, criaram um mapa com os resultados obtidos.
Como indicou Shogo Sato, professor de Biologia da Universidade do Texas, nos Estados Unidos (EUA), num artigo divulgado no Conversation, embora os ratos e os humanos sejam diferentes, estas descobertas podem ajudar a otimizar os exercícios com base na hora do dia, de forma a que cada um atinja as metas pessoais.
Sato, que é o primeiro autor do estudo, explicou que o relógio biológico é “marca-passo” que sincroniza a resposta do organismo à passagem de um dia para o outro, sendo o ritmo circadiano essencial para a saúde e o bem-estar.
O ritmo circadiano governa as mudanças físicas, mentais e comportamentais do corpo ao longo de cada ciclo de 24 horas, em resposta a sinais ambientais – como a luz e a comida. É por isso que os ataques cardíacos são mais frequentes no início da manhã, indicou Sato, primeiro autor do estudo.
E é também por isso que os ratos, que não têm relógios biológicos, envelhecem mais rápido e têm uma expetativa de vida mais curta, assim como as pessoas com uma mutação nos genes do relógio circadiano, que têm padrões anormais de sono.
O desalinhamento crónico de ritmo circadiano, como acontece em pessoas que trabalham em horários noturnos, pode levar a uma ampla gama de distúrbios físicos e mentais, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, cancro e doenças cardiovasculares.
O relógio biológico regula os ciclos de sono e as flutuações na pressão sanguínea e na temperatura corporal. A glândula pineal produz melatonina, que ajuda a regular o sono, sendo aconselhado reduzir a exposição à luz azul de dispositivos eletrónicos antes de dormir, pois pode atrapalhar a secreção dessa hormona.
O sono, por sua vez, ajuda a regular a leptina, hormona que controla o apetite e cujos níveis flutuam ao longo do dia. O sono insuficiente ou irregular pode interromper a produção de leptina, causando mais fome e um ganho de peso. Nos últimos anos, percebeu-se que comer em horários fixos pode prevenir as doenças metabólicas.
A depressão e outros transtornos podem estar ligados ao controle circadiano disfuncional. A hora do dia em se toma algum medicamento pode afetar a sua eficácia e os efeitos colaterais. Além disso, agora sabe-se que o relógio circadiano pode ajudar a identificar a melhor hora para maximizar os benefícios do exercício físico.